O meu Aquecimento Central c/Recuperador a Lenha

[Quintas2]

Venho partilhar a minha experiência em Aquecimento Central (AC) e de Água Quente Sanitária (AQS), com lenha, por substituição de um recuperador de calor normal por outro para aquecimento central.

O sistema inicial de AC e AQS era com caldeira a gasóleo, mas, como sempre usei um recuperador de calor na sala, acabei por trocá-lo por um que aquece a água, ficando o gasóleo como back-up ou para quando se sai e não se pode acender o lume. Antes disso ainda fiz uma “serpentina” em tubo de cobre que pus dentro do recuperador inicial, ligada ao circuito de bombagem do AC. Não resultou, só amornava a água.

O recuperador de calor para AC é semelhante aos que aquecem ar, mas é composto por duas paredes, entre as quais circula a água do AC. O meu é da Albicalor (português), o único que encontrei de dupla face.

E resulta?

Sim, um mero recuperador permite ter AC, para quem já tem o espaço com uma lareira ou um recuperador convencional; consigo ter a casa (150 elementos de radiador, mas normal/ só 113 + cilindro de AQS estão ligados) sempre quente e dispensar o gasóleo, incluindo para AQS, nos meses em que se aquece a casa a lenha (+- novembro a abril). Obriga a ligar a lareira diariamente por volta das 15h, para garantir água quente para banhos a partir das 17h. O conforto conseguido é grande, com a casa com cerca de 20-22ºC no inverno. Mesmo deixando apagar o recuperador +- às 22h, de manhã a casa ainda tem 18-20ºC. E, no fim dos banhos, a água do cilindro (170 litros) fica perto dos 60ºC, que dá para os gastos do dia seguinte até se ligar o recuperador.

Mas obriga a ter gente em casa para o alimentar a cada 20 a 30 min..

Gasto muita lenha, 12 a 14 ton/ano, mas poupo muito gasóleo – perto de 3000 l/ano.

[jmlflorencio]

Bom relato, e parabéns pela iniciativa

[Quintas2]

PRÓS
- A lenha constitui uma fonte renovável, no meu caso auto-produzida, logo quase gratuita.
- O conforto físico e psicológico de uma lareira dentro de casa é enorme. A casa aquecida a 20ºC a gasóleo parece mais fria do que a lenha, talvez porque toda a zona próxima do recuperador é mais quente e esse calor mantém-se por muitas horas depois de apagado o lume (todas as superfícies, com destaque para os tijolos refratários, acumulam calor que se libertará por muito tempo). Mas também há o calor psicológico do lume.
O simples olhar o fogo é cativante e faz-nos perder em pensamentos, se entretanto não adormecermos à sua frente.

CONTRAS
- Dá algum trabalho (1h/dia entre preparação de lenha e limpeza).
- Preparar, cortar, armazenar lenha (mesmo se comprada é preciso tê-la abrigada).
- A lenha suja, atrai bicharada.
- Os fumos e cinzas sujam e podem ter inconvenientes mesmo no exterior da habitação (maior limpeza de varandas e pátios, cuidados com roupa a secar, vizinhos).
- É necessária uma limpeza diária de cinzas e aprovisionamento de nova lenha.
- A segurança tem que ser reforçada em relação a potencial fogo e monóxido de carbono.

[Quintas2]

PRÓS do Recuperador
- Unicamente o conforto de ter um fogo aceso em casa.

CONTRAS do Recuperador (tudo o resto)
- Sujidade dentro de casa, obrigando a maior cuidado com a limpeza diária do recuperador.
- Maior frequência no abastecimento de lenha, pois há caldeiras com maiores capacidades de carga, com carga automática e até bi-combustível.

[Quintas2]

PRÓS
- Funciona bem, cumpre os objetivos e é de funcionamento simples.
- Tem uma ponte que atravessa o fogo, dentro da qual circula água, facilitando o seu aquecimento.
- A cortina de ar (a aresta inferior do vidro não tem cordão de isolamento, entrando ar que é projetado na vertical para o vidro) diminui de facto a sujidade no vidro.

CONTRAS
- É mal concebido em alguns aspetos técnicos elementares:
» Acrescentei uma chapa horizontal no topo da frente, para não entrar fumo quando se abre a porta.
» Os cinzeiros são pequenos e ficam exatamente na vertical da grelha, pelo que as cinzas amontoadas caem para fora dos cinzeiros. Fiz uma chapa, sob a grelha, limitando a zona de queda de cinzas para não cair junto dos limites do cinzeiro.
» O manípulo de abertura passa para o interior da porta quando se abre. Fixei o parafuso que aperta o manípulo com mastique.
» A proteção para a lenha não cair de encontro à porta tem aberturas que não evitam a passagem de lenha mais fina. Uso a proteção fechada do antigo recuperador.
» O apoio ao cliente é péssimo.
- A ponte diminui a altura da lenha que se pode inserir.

[Quintas2]

Optei por uma localização central, que evita perda de calor para as paredes exteriores.

Permite ainda aproveitar melhor o calor que se acumula na chaminé (ver post mais adiante) pois existe uma maior altura de “chaminé dentro” de casa – troço da conduta que fica abaixo do telhado.

[jmlflorencio]

Bom, mesmo com todos os contras (são alguns), com lenha grátis (ou quase) é uma aposta ganha.

Por acaso não tem fotos do recuperador 'cá fora', antes de montar?

[Quintas2]

Na escolha de materiais tive preocupações energéticas, para além de estéticas. O tijolo refratário acumula calor que vai aquecer a envolvente horas depois da extinção do fogo.

Os isolamentos térmicos do recuperador, tubagens panos de forro da lareira e chaminé, permitem um melhor aproveitamento do calor.

Na utilização de lã de rocha usei revestida a alumínio e não deixei lã à vista. Com o passar dos anos ela começa a formar pó que se liberta para o ar.

[Quintas2]

Bom, mesmo com todos os contras (são alguns), com lenha grátis (ou quase) é uma aposta ganha.

Por acaso não tem fotos do recuperador 'cá fora', antes de montar?

Não tenho fotos cá fora, mas no site da ALBICALOR podes ver.

[Quintas2]

Foi um erro inicial, que me obrigou mais tarde a abrir aberturas grandes para a instalação deste recuperador e sua manutenção. Quanto maiores, mais fácil se torna.

[Emanuel Couto]

Magnífica partilha que temos aqui... sem dúvida que vem esclarecer muitas dúvidas.

[Quintas2]

Uma lareira funciona como um exaustor, acesa ou apagada. O ar que sai pela chaminé tem de entrar para dentro de casa por algum lado (janelas mal calafetadas, respiradores de WC, chaminé da cozinha). Assim, enquanto a envolvente da lareira aquece, outros pontos da casa mais distantes e que não recebem o calor irradiado mas por onde entre ar tornam-se mais frios do que se a lareira estivesse apagada.

Mesmo apagada, o ar mais quente do interior tende a subir e sair pela conduta de fumos. Os recuperadores, fechados e com registos minimizam essas perdas.

Solução: fornecer uma entrada de ar exterior que deve sair perto da lareira, pois é aquecido de imediato. Na foto abaixo mostro a minha entrada de ar fresco numa parede exterior, a qual tinha um ventilador para forçar mais ar para o interior, o qual era aquecido pelo anterior recuperador de calor.

A chegada deste ar fresco ao lado da lareira não posso mostrar, pois está atrás dos panos de alvenaria que envolvem o recuperador.

[Quintas2]

A conduta de fumos, normalmente em tubo inox (de preferência de parede dupla) deve ir até ao topo da chaminé. Uma conduta que acaba no interior duma chaminé a meia altura está mais sujeita a remoinhos que o vento faça dentro da chaminé, prejudicando a tiragem.

No topo da chaminé, o espaço entre o limite da conduta em inox e as paredes de alvenaria da chaminé deve ser tapado e bem isolado; evitam-se condensações na tubagem e paredes interiores da chaminé, com escorrências desagradáveis.

Além disso, cria-se uma caixa de ar quente entre a conduta de fumos e as paredes da chaminé, o qual pode ser aproveitado. Em casas com pisos acima do da lareira, colocando respiradores nos pisos superiores ou no sótão, para libertar esse ar quente para o interior da habitação.

Na foto abaixo, vê-se uma saída superior desse ar quente (e sai bem quente) no meu sótão. A entrada de ar é semelhante, junto ao chão. O sótão não é habitado, mas ao aquecê-lo melhoro a “performance” térmica de toda a habitação, por diminuir as perdas pelo teto do piso inferior.

No meu caso, para evitar uma possível entrada de insetos caso haja um ponto mal fechado na chaminé, enrolei um tubo de alumínio em espiral em torno da conduta de fumos, no interior das alvenarias da chaminé. O que se vê é a saída superior desse tubo. A chaminé foi rebocada também do lado de dentro, à medida que foi sendo construída.

As paredes que envolvem a lareira/recuperador no interior da habitação criam uma caixa de ar quente, aquecido pela conduta de fumos, que liberta muito calor pelos respiradores laterais, sendo necessário isolar o topo dessa caixa de ar pouco acima desses respiradores, a menos que se vá aproveitar esse calor em pisos situados acima.

[Quintas2]

Há várias formas de aquecer a AQS com lenha:

- Bailarinas.
- Fogões.
- Caldeiras de lareira aberta, uma caixa metálica onde circula água, colocada na lareira, ao lado e/ou sob o fogo.
- Caldeiras de chaminé, que envolvem a conduta de fumos.
- Cilindro com serpentina ligada ao AC.


É este o meu caso. Na prática, o cilindro funciona como outro radiador por onde a água do circuito passa (pela serpentina), aquecendo a água sanitária.

Na utilização do mesmo fluido do AC para AQS tenho o cuidado de usar anticorrosivos que não sejam tóxicos, caso haja uma perfuração da serpentina e possível contaminação da AQS (isto, muito embora a AQS esteja a uma pressão superior à pressão do fluido que circula na serpentina).

[Quintas2]

Atualmente tenho já 1000W de painéis para uma resistência de 750W (ver tópico:https://www.novaenergia.net/forum/viewt ... #p11249514) que pus no cilindro.

[Quintas2]

No meu caso, para além dos usos normais, a água quente abastece diretamente as máquinas de lavar roupa (ver tópico: https://www.novaenergia.net/forum/viewt ... #p11253948) e louça.

[Quintas2]

A ligação da água aquecida no recuperador com o sistema de AC a gasóleo pré-existente foi feita por corte e introdução de um “T” no ramal principal do circuito inicial, mas longe da caldeira a gasóleo. Isto fez com que entre o ponto de interseção das tubagens e a caldeira a gasóleo a água passasse em sentido contrário ao que faria vinda da caldeira. Uma válvula antiretorno, à saída da caldeira, impede que a água quente produzida no recuperador aqueça a caldeira, para evitar perdas.
Analogamente, uma válvula antiretorno impede a circulação para o recuperador, quando for a caldeira a aquecer a água.

Se os dois sistemas estiverem ligados em simultâneo, um relé corta a energia às bombas da caldeira a gasóleo (exceto à bomba que aquece a água do cilindro de AQS) sempre que o termostato do recuperador liga a bomba deste, evitando conflitos entre bombas. Mal o termostato do recuperador desligue, as bombas da caldeira a gasóleo retomam o funcionamento.

[Quintas2]

Foi instalado mais um purgador automático de ar, no topo do recuperador a lenha, e mais uma válvula de segurança. Esta dispara se se atingir P = 3bar ou T = 90ºC.

O vaso de expansão foi substituído por outro de maior capacidade.

O termostato do recuperador liga a bomba aos 60ºC. Temp. mais elevadas fazem a bomba trabalhar por períodos muito curtos, prejudicando a chegada de água quente aos radiadores mais longínquos. Temp. mais baixas fazem a bomba trabalhar sem parar, aumentando o consumo de eletricidade.

Temp. mais altas também aqueceriam demasiado a AQS do cilindro. Para temperaturas mais altas, seria desejável instalar uma torneira termostática à entrada do cilindro, para a AQS não aquecer demais.

Com esta regulação dos 60ºC, se se carregar continuamente o recuperador com lenha, a água do circuito vai estabilizar a cerca de 75ºC no recuperador, o que faz com que a bomba trabalhe ininterruptamente, mas a água no cilindro nunca ultrapassa os 70ºC. Por norma, a água do cilindro não ultrapassa os 65ºC.

[Quintas2]

Para além dos mecanismos de segurança do sistema, instalei um detetor de fumos e outro de monóxido de carbono.

Nunca me deito sem ter a certeza de que só há algumas brasas sem chama viva e o registo ficou fechado (o registo tem um rasgo de segurança para, mesmo fechado, não obstruir por completo a exaustão de gases para a conduta de fumos), para um eventual vento forte não empurrar fumos para o interior. Há quem, antes de se deitar, ponha lenha e “abafe” o recuperador para essa lenha ficar a “moer” toda a noite mantendo sempre algum calor. Eu não o faço.

[Quintas2]

Enquanto numa caldeira a gasóleo ou gás, quando falta eletricidade, tudo para, incluindo a injeção de combustível, num recuperador a lenha, as bombas param mas a produção de calor continua.

O resultado é a abertura da(s) válvula(s) de segurança para libertar a P ou T excessivas no circuito.

O grupo de enchimento automático normal/ existente vai repor essa água e, continuando a falta de energia, o processo repete-se.

Como isso já me aconteceu algumas vezes, tenho o enchimento automático fechado (controlo a P no manómetro regularmente e faço o enchimento manual quando é necessário), para evitar despejos desnecessários, pois isso também diminui a quantidade de anti-corrosivo no fluido.

Também ajuda abrir todo o registo para libertar mais calor para a chaminé e as portas do recuperador para libertar calor para dentro de casa (é fazer do recuperador uma lareira aberta, pois o que importa nessa altura é tirar calor do recuperador).