Alterações climáticas e a integridade da Ciência

Para assuntos relacionados com o meio ambiente que não tenham nenhuma relação com energias.
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Njay
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Alterações climáticas e a integridade da Ciência

Mensagem por Njay »

foi publicada este mês (maio 2010) uma carta aberta entitulada "alterações climáticas e a integridade da ciência" e assinada por 255 membros da academia nacional de ciências dos eua, que inclui 11 galardoados com o prémio nobel. fica aqui o link para a versão original em inglês, e mais abaixo encontra-se a minha tradução livre para português (a inicial dada pelo google e revista por mim).

http://www.sciencemag.org/cgi/content/full/328/5979/689

tradução p/ português

alterações climáticas e a integridade da ciência

estamos profundamente perturbados pela recente escalada de ataques políticos aos cientistas em geral e os cientistas do clima em particular. todos os cidadãos devem entender alguns factos científicos. há sempre alguma incerteza associada às conclusões científicas; a ciência nunca prova nada em termos absolutos. quando alguém diz que a sociedade deve esperar, até que os cientistas estejam absolutamente certos, antes de tomar qualquer acção, diz na verdade que a sociedade nunca deve agir. para um problema potencialmente catastrófico como o das alterações climáticas, a ausência de acção constitui um risco perigoso para o nosso planeta.

as conclusões científicas decorrem de uma compreensão das leis básicas, apoiadas por experiências de laboratório, observações da natureza e modelagem matemática e computacional. como todos os seres humanos, os cientistas cometem erros, mas o processo científico foi desenhado para os encontrar e corrigir. este processo é intrinsecamente competitivo - os cientistas constroem reputações e ganham reconhecimento não só por apoiarem a sabedoria tradicional mas ainda mais por demonstrarem que o consenso científico está errado e que há uma explicação melhor. foi isso que galileu, pasteur, darwin e einstein fizeram. mas quando algumas conclusões foram exaustivamente testadas e profundamente questionadas e examinadas, elas ganham o estatuto de "teorias bem estabelecidas" e são frequentemente referidas como "fatos".

por exemplo, há evidências científicas convincentes de que nosso planeta tem uma idade de cerca de 4,5 mil milhões de anos (a teoria da origem da terra), que o nosso universo nasceu de um único evento ácerca de 14 mil milhões de anos (a teoria do big bang), e de que os organismos actuais evoluíram a partir de outros que viveram no passado (a teoria da evolução). mesmo que estas sejam amplamente aceites pela comunidade científica, a fama ainda espera por alguém que consiga mostrar que estas teorias estão erradas. as alterações climáticas já se enquadram nesta categoria: há atraentes, abrangentes, e consistentes evidências objetivas de que os humanos estão a mudar o clima de formas que ameaçam as nossas sociedades e os ecossistemas de que dependemos.

muitos dos ataques recentes à ciência do clima e, mais preocupante, a cientistas do clima por parte de opositores às alterações climáticas são geralmente movidos por interesses especiais ou dogma, e não por um esforço honesto para fornecer uma teoria alternativa credível que satisfaça as provas. o painel intergovernamental sobre a mudança climática (ipcc) e outras avaliações científicas sore as alterações climáticas, que envolvem milhares de cientistas produzindo relatórios massivos e abrangentes, cometeram, como é expectável e normal, alguns erros. quando os erros são apontados, são corrigidos. mas não há nada identificado, nem sequer um indício, nos acontecimentos recentes que altere as conclusões fundamentais sobre as alterações climáticas, que são:

(i) o planeta está a aquecer devido ao aumento da concentração de gases de efeito de estufa na nossa atmosfera. um inverno washington com mais neve que o habitual não altera este facto.

(ii) a maior parte do aumento da concentraçao destes gases durante o último século tem origem na actividade humana, especialmente na queima de combustíveis fósseis e desflorestação.

(iii) as causas naturais têm sempre um papel na mudança do clima da terra, mas estão agora a ser ultrapassadas pelas mudanças induzidas pelo homem.

(iv) o aquecimento do planeta vai mudar muitos outros padrões climáticos a uma velocidade sem precedentes nos tempos modernos, incluindo o aumento das taxas de aumento do nível do mar e alterações no ciclo hidrológico. concentrações altas de dióxido de carbono estão a tornar os oceanos mais ácidos.

(v) a combinação destas complexas mudanças climáticas ameaça as comunidades costeiras e cidades, o nosso alimento e água, os ecossistemas marinhos e de água doce, florestas, ambientes de alta montanha, e muito mais.

muito mais pode ser, e tem sido dito pelas sociedades científicas mundiais, academias nacionais, e indivíduos, mas estas conclusões devem ser o suficiente para mostrar porque é que os cientistas estão preocupados com aquilo que as futuras gerações vão enfrentar por causa das nossas práticas habituais. apelamos aos nossos decisores políticos e ao público que avancem de imediato no sentido de tomar medidas àcerca das causas das alterações climáticas, incluindo a queima sem limites de combustíveis fósseis.

também apelamos ao fim de ameaças do "tipo mccarthy", como a do procedimento penal, contra os nossos colegas com base em insinuações e culpa por associação, ao assédio de cientistas por parte de políticos que procuram distrações para evitar tomar medidas, e às mentiras que estão a ser espalhados sobre eles. a sociedade tem duas escolhas: podemos ignorar a ciência e esconder a cabeça na areia e esperar que tenhamos sorte, ou podemos agir no interesse público para reduzir a ameaça das alterações climáticas globais de forma rápida e substancial. a boa notícia é que acções inteligentes e eficazes são possíveis. mas o atraso não pode ser uma opção.

p. h. gleick, r. m. adams, r. m. amasino, e. anders, d. j. anderson, w. w. anderson, l. e. anselin, m. k. arroyo, b. asfaw, f. j. ayala, a. bax, a. j. bebbington, g. bell, m. v. l. bennett, j. l. bennetzen, m. r. berenbaum, o. b. berlin, p. j. bjorkman, e. blackburn, j. e. blamont, m. r. botchan, j. s. boyer, e. a. boyle, d. branton, s. p. briggs, w. r. briggs, w. j. brill, r. j. britten, w. s. broecker, j. h. brown, p. o. brown, a. t. brunger, j. cairns, jr., d. e. canfield, s. r. carpenter, j. c. carrington, a. r. cashmore, j. c. castilla, a. cazenave, f. s. chapin, iii, a. j. ciechanover, d. e. clapham, w. c. clark, r. n. clayton, m. d. coe, e. m. conwell, e. b. cowling, r. m cowling, c. s. cox, r. b. croteau, d. m. crothers, p. j. crutzen, g. c. daily, g. b. dalrymple, j. l. dangl, s. a. darst, d. r. davies, m. b. davis, p. v. de camilli, c. dean, r. s. defries, j. deisenhofer, d. p. delmer, e. f. delong, d. j. derosier, t. o. diener, r. dirzo, j. e. dixon, m. j. donoghue, r. f. doolittle, t. dunne, p. r. ehrlich, s. n. eisenstadt, t. eisner, k. a. emanuel, s. w. englander, w. g. ernst, p. g. falkowski, g. feher, j. a. ferejohn, a. fersht, e. h. fischer, r. fischer, k. v. flannery, j. frank, p. a. frey, i. fridovich, c. frieden, d. j. futuyma, w. r. gardner, c. j. r. garrett, w. gilbert, r. b. goldberg, w. h. goodenough, c. s. goodman, m. goodman, p. greengard, s. hake, g. hammel, s. hanson, s. c. harrison, s. r. hart, d. l. hartl, r. haselkorn, k. hawkes, j. m. hayes, b. hille, t. hökfelt, j. s. house, m. hout, d. m. hunten, i. a. izquierdo, a. t. jagendorf, d. h. janzen, r. jeanloz, c. s. jencks, w. a. jury, h. r. kaback, t. kailath, p. kay, s. a. kay, d. kennedy, a. kerr, r. c. kessler, g. s. khush, s. w. kieffer, p. v. kirch, k. kirk, m. g. kivelson, j. p. klinman, a. klug, l. knopoff, h. kornberg, j. e. kutzbach, j. c. lagarias, k. lambeck, a. landy, c. h. langmuir, b. a. larkins, x. t. le pichon, r. e. lenski, e. b. leopold, s. a. levin, m. levitt, g. e. likens, j. lippincott-schwartz, l. lorand, c. o. lovejoy, m. lynch, a. l. mabogunje, t. f. malone, s. manabe, j. marcus, d. s. massey, j. c. mcwilliams, e. medina, h. j. melosh, d. j. meltzer, c. d. michener, e. l. miles, h. a. mooney, p. b. moore, f. m. m. morel, e. s. mosley-thompson, b. moss, w. h. munk, n. myers, g. b. nair, j. nathans, e. w. nester, r. a. nicoll, r. p. novick, j. f. o'connell, p. e. olsen, n. d. opdyke, g. f. oster, e. ostrom, n. r. pace, r. t. paine, r. d. palmiter, j. pedlosky, g. a. petsko, g. h. pettengill, s. g. philander, d. r. piperno, t. d. pollard, p. b. price, jr., p. a. reichard, b. f. reskin, r. e. ricklefs, r. l. rivest, j. d. roberts, a. k. romney, m. g. rossmann, d. w. russell, w. j. rutter, j. a. sabloff, r. z. sagdeev, m. d. sahlins, a. salmond, j. r. sanes, r. schekman, j. schellnhuber, d. w. schindler, j. schmitt, s. h. schneider, v. l. schramm, r. r. sederoff, c. j. shatz, f. sherman, r. l. sidman, k. sieh, e. l. simons, b. h. singer, m. f. singer, b. skyrms, n. h. sleep, b. d. smith, s. h. snyder, r. r. sokal, c. s. spencer, t. a. steitz, k. b. strier, t. c. südhof, s. s. taylor, j. terborgh, d. h. thomas, l. g. thompson, r. t. tjian, m. g. turner, s. uyeda, j. w. valentine, j. s. valentine, j. l. van etten, k. e. van holde, m. vaughan, s. verba, p. h. von hippel, d. b. wake, a. walker, j. e. walker, e. b. watson, p. j. watson, d. weigel, s. r. wessler, m. j. west-eberhard, t. d. white, w. j. wilson, r. v. wolfenden, j. a. wood, g. m. woodwell, h. e. wright, jr., c. wu, c. wunsch, m. l. zoback
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Bluesky
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Re: Alterações climáticas e a integridade da Ciência

Mensagem por Bluesky »

excelente! veio na altura certa, deve abrir os olhos a muita gente. subscrevo tambem por baixo. descarta muita gente das responsabilidades do disse e do disse que nao disse. esclarece. espero agora que os politicos compreendam que pagar para poluir nao funciona, com quotas ou sem quotas.
_______ .oO Impossivel é um conceito /& / não uma realidade Oo. _______


Tó Miguel
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Catástrofes deste Verão alertam para mudanças climáticas

Mensagem por Tó Miguel »

catástrofes deste verão alertam para mudanças climáticas

entre canícula, seca e inundações, os acontecimentos excepcionais que se desenrolam este verão, da rússia ao paquistão, remetem para as perspectivas sombrias dos efeitos futuros das mudanças climáticas.
os climatólogos interrogados hoje pela agência noticiosa afp recusam correlacionar as catástrofes que atingem a federação russa, o paquistão, a china ou a europa de leste, argumentando com a falta de histórico.


mas todos as consideram «coerentes» com as conclusões do grupo intergovernamental de peritos sobre as mudanças climáticas (giec).
“são acontecimentos que se reproduzem e se intensificam num clima perturbado pela poluição dos gases com efeito de estufa”, adianta jean-pascal van ypersele, vice-presidente do giec.
“os acontecimentos extremos são uma das maneiras pelas quais as mudanças climáticas se tornam dramaticamente perceptíveis”, acrescentou.

a agência dos estados unidos para os oceanos e a atmosfera (noaa, na sigla em inglês) assegura que o planeta nunca esteve tão quente como no primeiro semestre de 2010.
ora, segundo o giec, num clima que está a aquecer, as secas e as vagas de calor, como a que ocorre na federação russa e em 18 estados norte-americanos, tornar-se-ão mais intensas e mais longas.
“quer se trate de frequência ou de intensidade, praticamente em cada ano batem-se recordes, às vezes até na mesma semana: na rússia, o recorde absoluto observado em moscovo, nunca visto desde o início dos registos meteorológicos há 130 anos (38,2 graus célsius no fim de julho), foi batido no início de agosto. no paquistão, as inundações nunca conheceram uma tal amplitude geográfica”, sublinha omar baddour, encarregado de acompanhar a evolução do clima mundial na organização meteorológica mundial.

“encontramo-nos, nos dois casos, numa situação sem precedentes”, assegurou.
“a sucessão de extremos e a aceleração dos registos são conformes às projecções do giec. mas é preciso observar estes extremos ao longo de vários anos para tirar conclusões em termos de clima”, relativizou.
tanto assim que as inundações no paquistão poderão ser imputáveis ao fenómeno la niña que – ao contrário do el niño, ao qual sucede normalmente – é provocado por um arrefecimento acentuado da temperatura na superfície do oceano pacífico central.
“de maneira geral, o el niño provoca uma seca no subcontinente indiano e no sahel. com o la niña é o contrário”, adiantou baddour.
o climatólogo britânico andrew watson justificou o calor atual com o el niño do ano passado.
“sabemos que depois do el niño segue-se um ano particularmente quente, e é o que se está a passar”, apontou.
o especialista adiantou que os extremos observados este ano são “totalmente coerentes com os relatórios do grupo intergovernamental de peritos sobre as mudanças climáticas e com as previsões de 99 por cento dos cientistas”.

diário digital / lusa

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?s ... 618&page=3
"ECOnomia também pode ser ECOlogia"
Sócio ANE Nº 16

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