Taipa e Adobe

Projecção e construção e edifícios amigos do ambiente
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cariquinha
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Taipa e Adobe

Mensagem por cariquinha »

"taipa, originalmente da palavra árabe tabíya. em castelhano, tapial ou tapia, dependendo da terminologia utilizada. em francês, pisé, em inglês, rammed-earth e em português do brasil, taipa de pilão. a terminologia referente à arquitectura de terra difere bastante de idioma para idioma, de país para país e ainda entre regiões do mesmo país, como é o caso português. considerando-se taipa, a sul de portugal, a técnica construtiva que permite elevar paredes autoportantes, e que consiste na compressão de terra entre dois taipais (cofragens em madeira), por meio de um maço (pisão ou pilão)".

"a sul do país, aproximadamente até aos anos 50, a taipa era a técnica construtiva mais utilizada, tanto no alentejo e ribatejo (também identificado em abrantes e santarém), como no algarve (a sul das serras de monchique e do caldeirão). na região em estudo, esta técnica foi muito utilizada no baixo alentejo, assim como no sul do alto alentejo, existindo no entanto, áreas específicas isoladas no meio da construção em taipa, onde se edificava em alvenaria de pedra (especialmente alvenaria de xisto, como é o caso de monsaraz) ou em adobe. esta última técnica aparecia sobretudo em zonas de aluvião (por exemplo, o vale do sado), mas também em bolsas pontuais onde a terra era mais argilosa (alguns edifícios da aldeia da luz) e por vezes nas paredes interiores das habitações.

o centro litoral era dominado pelo adobe, devido às regiões de grande aluvião. uma grande variedade de tipologias de adobe é identificada por todo o centro (observado na zona ribatejana, em almeirim, coruche e benavente). quando eram realizados com terra mais arenosa, como a existente em pataias, concelho de nazaré, procurava-se travar a alvenaria de adobe, entre cada fiada horizontal, com pedaços de telha, ou então utilizava-se uma argamassa forte de cal e areia. quando o próprio adobe era composto por cal e areia, logo de melhor consistência, era possível inclusive a sua utilização na construção de poços de água para a rega agrícola, como os existentes na freguesia de fermentelos, concelho de águeda. a técnica foi desaparecendo durante as décadas de 60 e 70."

fonte: http://209.85.229.132/search?q=cache:zd ... cd=6&gl=pt - onde podem ler o resto.

ainda: http://209.85.229.132/search?q=cache:l6 ... cd=5&gl=pt

dizem que as casas em terra existem há 12000 anos. é natural, é o material "mais à mão", existe em todo o lado, é barato e definitivamente responde ao conceito de sustentabilidade que almejamos. igualmente é durável, pois temos fortalezas e castelos com centenas de anos ainda em pé e para durar. tem uma beleza característica, quem não conhece as típicas casinhas alentejanas?!
do que tenho vindo a ler este é o conceito de casa sustentável que mais me agrada até agora. (alimento o sonho de uma casa sustentável, ecológica, auto suficiente energéticamente, usufruindo do que a terra nos dá).

no entanto, tenho dúvidas sobre se ainda existem profissionais que façam casas neste método. e sobretudo, os preços!
se alguém tiver informação para partilhar sobre este tema, agradeço desde já!


Ferra
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por Ferra »

cariquinha Escreveu:"taipa, originalmente da palavra árabe tabíya. em castelhano, tapial ou tapia, dependendo da terminologia utilizada. em francês, pisé, em inglês, rammed-earth e em português do brasil, taipa de pilão. a terminologia referente à arquitectura de terra difere bastante de idioma para idioma, de país para país e ainda entre regiões do mesmo país, como é o caso português. considerando-se taipa, a sul de portugal, a técnica construtiva que permite elevar paredes autoportantes, e que consiste na compressão de terra entre dois taipais (cofragens em madeira), por meio de um maço (pisão ou pilão)".

"a sul do país, aproximadamente até aos anos 50, a taipa era a técnica construtiva mais utilizada, tanto no alentejo e ribatejo (também identificado em abrantes e santarém), como no algarve (a sul das serras de monchique e do caldeirão). na região em estudo, esta técnica foi muito utilizada no baixo alentejo, assim como no sul do alto alentejo, existindo no entanto, áreas específicas isoladas no meio da construção em taipa, onde se edificava em alvenaria de pedra (especialmente alvenaria de xisto, como é o caso de monsaraz) ou em adobe. esta última técnica aparecia sobretudo em zonas de aluvião (por exemplo, o vale do sado), mas também em bolsas pontuais onde a terra era mais argilosa (alguns edifícios da aldeia da luz) e por vezes nas paredes interiores das habitações.

o centro litoral era dominado pelo adobe, devido às regiões de grande aluvião. uma grande variedade de tipologias de adobe é identificada por todo o centro (observado na zona ribatejana, em almeirim, coruche e benavente). quando eram realizados com terra mais arenosa, como a existente em pataias, concelho de nazaré, procurava-se travar a alvenaria de adobe, entre cada fiada horizontal, com pedaços de telha, ou então utilizava-se uma argamassa forte de cal e areia. quando o próprio adobe era composto por cal e areia, logo de melhor consistência, era possível inclusive a sua utilização na construção de poços de água para a rega agrícola, como os existentes na freguesia de fermentelos, concelho de águeda. a técnica foi desaparecendo durante as décadas de 60 e 70."

fonte: http://209.85.229.132/search?q=cache:zd ... cd=6&gl=pt - onde podem ler o resto.

ainda: http://209.85.229.132/search?q=cache:l6 ... cd=5&gl=pt

dizem que as casas em terra existem há 12000 anos. é natural, é o material "mais à mão", existe em todo o lado, é barato e definitivamente responde ao conceito de sustentabilidade que almejamos. igualmente é durável, pois temos fortalezas e castelos com centenas de anos ainda em pé e para durar. tem uma beleza característica, quem não conhece as típicas casinhas alentejanas?!
do que tenho vindo a ler este é o conceito de casa sustentável que mais me agrada até agora. (alimento o sonho de uma casa sustentável, ecológica, auto suficiente energéticamente, usufruindo do que a terra nos dá).

no entanto, tenho dúvidas sobre se ainda existem profissionais que façam casas neste método. e sobretudo, os preços!
se alguém tiver informação para partilhar sobre este tema, agradeço desde já!
google sobre eng. alegria. é um sr que se dedica a coisas que já são dificeis de encontrar actualmente, mas que foram populares.
boa sorte
Só sei que nada sei. Mas estou a aprender! :-)

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pseudominus
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por pseudominus »

regresso das casas em terra


roberto dores


a construção em terra voltou a ter procura em portugal, sobretudo no litoral alentejano e algarve, onde os arquitectos vêm aperfeiçoando as técnicas de reutilização de materiais em nome da "sustentabilidade do futuro". garantem os especialistas que a maior vantagem desta construção recai sobre o comportamento das casas em termos de inércia térmica, fazendo com que o interior dos imóveis seja fresco no verão e quente no inverno.

a arquitecta maria fernandes, da associação centro da terra, garante ao dn que este comportamento energético tem por base o facto das paredes serem muito grossas - construídas em taipa (terra prensada), no caso do alentejo, ou em blocos de terra comprimidos, na região algarvia - atingindo espessuras volumétricas de meio metro, dispensando o uso de ares condicionados. "o verão é sempre fresco, porque o interior da casa demora tanto tempo a aquecer que, quando isso acontece, já estamos no inverno", sustenta a mesma especialista. nos meses frios, uma simples lareira é suficiente para aquecer todo o imóvel, como tem sido demonstrado pelas recentes experiências alentejanas, onde o clima se caracteriza por elevadas diferenças térmicas.

este tema esteve em foco durante o iv seminário ibero-americano, que juntou 160 especialistas em monsaraz, não passando despercebido o facto de ter sido a comunidade estrangeira que reside no litoral alentejano e algarve que começou a procurar esta modalidade de construção, sobretudo numa região em que a terra revela grande qualidade para retomar tradições antigas ao nível da edificação. por isso, o número de restauros de habitações rurais e urbanas, com recurso a técnicas tradicionais, disparou, com a particularidade de os arquitectos terem enveredado por uma actualização contemporânea.

a directora da escola superior gallaecia, mariana correia, explica que as maiores vantagens do regresso à construção em terra recaem "nas questões ecológica e sustentável", justificando que "a terra é da terra. permite que se retire material para a construção do próprio local onde se quer edificar. dá para retirar dos caboucos para as fundações e não é preciso o transporte, o que promove a sutentabilidade".

numa altura em que "os recursos energéticos naturais se começam a esgotar", mariana correia alerta que a construção em terra consome, em média, menos 60% de água do que a construção em betão, "e não polui o ambiente".

a arquitecta diz que este modelo de construção acaba por responder a muitos anseios da população, sobretudo de um extracto social médio/alto, que procura uma segunda casa fora de lisboa e centralizada na costa. embora sejam casas mais caras do que as convencionais, a competitividade que começa a caracterizar a construção em terra está a fazer baixar o custo da mão-de-obra, permitindo aproximá-la dos preços do betão e tijolo.



casas de terra molhada


isabel lucas


os homens de relíquias constroem casas como as que os mouros faziam há muito tempo e o barulho que a obra tem ouve-se menos que o do calor à uma da tarde. é que para antónio e para jorge, construtores de paredes de terra, o calor tem um som que às vezes pesa mais que o do silêncio. é feito do bater das asas dos besouros, do voo dos insectos, e àquela hora abafa qualquer conversa. estão empoleirados em muros de terra num monte a dez quilómetros da zambujeira do mar e dizem que o calor ali se ouve menos que "nas relíquias", e as relíquias só ficam um pouco mais "para dentro", a nordeste de odemira. "aqui sempre sopra o vento do mar que refresca a gente", diz antónio enquanto calca a terra com um objecto de madeira igual ao que tantos homens usaram em muitas gerações anteriores à sua.

antónio faz casas de terra e enquanto as faz não há barulho que não o do malho a cair na taipa húmida. é um som abafado, grave, que fica enterrado mal os braços descem. não há betoneiras nem gruas, não se parte tijolo nem pedra. é só terra calcada e os braços de sete homens protegidos do sol por sete chapéus. a terra abafa o som da obra e os homens não se ouvem no zumbido dos insectos. também a voz de jorge mal se escuta. enche baldes de terra tirada do pinhal, ali mesmo ao lado. é terra escura que vai temperando com areia e cascalho e amolece depois com água e um regador, até que a massa fique moldável. "não pode estar nem muito molhada nem muito seca senão a parede racha", explica antónio do alto do muro e sem interromper os gestos, o sincopado do acamar da terra.

jorge é novo. o mais novo dos sete, e há dois anos que se juntou aos outros para fazer casas de terra. diz que gosta, mas falta-lhe convicção. diz que "é moda" e aí já sorri. rega a terra e por vezes agarra-a com as mãos, faz dela uma bola para lhe testar a consistência e atira-a para o monte. os outros homens estão em cima de muros que hão-de ser paredes de uma casa e esperam a terra que jorge lhes há-de levar em baldes. a essa terra como a que jorge faz, moldada depois entre dois taipais de madeira, chama-se taipa e é dela que estão a nascer cada vez mais casas na região de odemira.

rudolfo muller começou a construir uma há dois anos e já vive nela. "tem um óptimo isolamento térmico e acústico", afirma. este suíço que se instalou em portugal há 23 anos diz que não é um fundamentalista da natureza, mas ao saber das qualidades da taipa não hesitou. "um dos segredos está na espessura das paredes e no modo como a terra é comprimida", adianta. ao contrário dos tijolos de adobe, a taipa não se transporta em peças. é construída directamente na obra, por fases, e a cada uma chama-se taipal. antónio, velho conhecido de rudolfo, ajuda na explicação como pode. "um taipal leva 115 baldes da mistura de terra, pedras, areia e água; tem dois metros de comprimento, 50 centímetros de largura e de altura e entre três e quatro horas de trabalho". depois é deixar secar e acrescentar-lhe outra nova, até ficar parede que não deve ser pintada antes de um ano, para que saia toda a humidade, porque "só a humidade destrói a taipa".

no monte da choça, onde rudolfo mora, bem perto de s. teotónio, já havia casas de taipa com paredes de reboco, caiadas de branco, como quase sempre se fazia no alentejo. era assim, até a tradição se perder quando a taipa passou a ser olhada como "coisa de pobres". rudolfo decidiu preservá-la na nova casa, mas quer dispensar o reboco de uma das fachadas e pintá-la de ocre. será então ocre sobre taipa e da cor da taipa "no lado onde bate o vento".

e na casa de rudolfo a taipa tem a cor da cortiça acabada de tirar. já na que antónio e jorge constroem parece cortiça seca. "depende da terra", explica antónio, e rudolfo também sabe que a taipa tem a cor do chão com que é feita. ficou de levar umas cervejas aos homens e eles cobram-lhe a promessa. estão ao sol desde as oito da manhã e só irão para a sombra quando forem seis da tarde. há um mês que erguem as paredes da casa do monte vizinho de rudolfo e elas ainda não levam o tamanho de um homem, "nem nada que se pareça". jorge, que vive numa casa de tijolo, diz que há trabalho para mais um ano. antónio, que sempre viveu numa casa de taipa, gostava que esta já tivesse tecto porque não há nada mais fresco. só que a taipa só se constrói ao sol e é por isso que antónio encolhe os ombros sem nunca deixar de calcar a terra. "há coisas piores. como tirar cortiça. pelo menos aqui não há formigas..." e pior que isso "é andar nas minas, estar enterrado, sem ver o sol", acrescenta jorge.

antónio e jorge constroem casas de taipa, mas também fazem casas de tijolo. gostam que a taipa "seja agora coisa chique".





angola: novas tecnologias aplicadas na construção casas de terra melhoram habitação- especialistas

17 de maio de 2008, 18:29


braga, 17 mai (lusa) - os investigadores da universidade do minho, said jalali e rute eires, defenderam, hoje, em braga que "as recentes inovações tecnológicas aplicadas na construção de casas em terra" podem ser aplicadas em angola, onde não falta matéria-prima adequada.
"a introdução de técnicas inovadoras pode desfazer preconceitos em relação a este tipo de construção e promover a sua utilização no mercado da habitação e construção", afirmaram.
os dois peritos do departamento de engenharia civil falavam na conferência intitulada "angola: ensino, investigação e desenvolvimento (eidao 08)" que, hoje, terminou na universidade do minho e que, sob a presidência do universitário angolano, joaquim macedo, juntou 100 académicos, investigadores, homens de cultura e agentes económicos, sociais e políticos de portugal, angola e brasil.
said jalali e rute eires lembraram que "angola é um país com excelentes condições para a utilização da construção em terra, pelo seu clima e pela sua abundante matéria-prima".
revelaram que "as inovações neste tipo de construção consistem, sobretudo, no desenvolvimento de soluções de estabilização do solo que trazem melhorias significativas em termos de durabilidade, economia, sustentabilidade e estética".
referiram que "a estabilização do solo é realizada por diversos meios, como por exemplo, pela mistura de terra com outros materiais como o cimento, a cal, pozolanas e cinzas volantes e adições, em pequenas quantidades, de alguns aditivos de origem material".
com estas especificações - sublinharam - "é possível obter um material de construção mais durável, pelas suas maiores resistências à água, a bactérias e fungos e pela sua maior resistência mecânica".
tal permite, ainda, "reduzir o tempo de cura do material e obter um aspecto mais adaptado às actuais exigências sociais".
os dois peritos lembraram que a introdução desta tecnologia pode mudar a percepção desajustada de que o uso da terra na construção "está ligado à pobreza", acentuando que "se estima que metade da população do globo, três biliões de pessoas viva em construções de terra crua, realizadas através de diversas tecnologias".
lm.
lusa/fim


ver tb em:

http://alentejanando.weblog.com.pt/arquivo/095862.html

http://fazeres.no.sapo.pt/frameslayout/casataipa.htm

http://www.csaarquitetura.com.br/index3.htm

http://saberes.no.sapo.pt/taipa.htm




cumpts


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cariquinha
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por cariquinha »

obrigada pelos contributos!


treker666
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por treker666 »

viva,

no meu entender e após uns livros lidos e pesquisa diversa na net, caso não seja uma construção própria (praticamente auto-construção) a construção em taipa ficará mais cara do que a construção actual pois a mão de obra vai encarecer de sobremaneira o produto final, sem contar com a série de problemas em licenciamentos. de qualquer forma, considero que é uma óptima forma de construção, senão a mais eficaz em termos térmicos/acústicos.

fernando


pedro abreu
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por pedro abreu »

treker666 Escreveu:viva,

no meu entender e após uns livros lidos e pesquisa diversa na net, caso não seja uma construção própria (praticamente auto-construção) a construção em taipa ficará mais cara do que a construção actual pois a mão de obra vai encarecer de sobremaneira o produto final, sem contar com a série de problemas em licenciamentos. de qualquer forma, considero que é uma óptima forma de construção, senão a mais eficaz em termos térmicos/acústicos.

fernando

olá a todos, inicio-me no fórum permitindo-me discordar da primeira afirmação do amigo fernando, na construção em taipa estão envolvidos diversos outros factores que condicionam o custo final da obra, nomeadamente a extracção (local e condições), transporte e transformação (estabilização ou não) do material até ao taipal. neste ponto os equipamentos e desenvolvimentos tecnológicos podem contribuir para o controlo da qualidade do produto e uma diminuição do tempo de obra e deste modo do custo final.
neste sentido, acho céptico afirmar que sai mais caro apenas porque a mão-de obra encarece(!!?), sem entender o que está em causa. a questão da mão-de-obra, determinante no futuro da construção em terra, resultará e terá de dar resposta ao aumento e exigência da procura, através de formação adequada, como em qualquer outro tipo de construção, com o aumento da procura, a oferta dará resposta, aparecerá concorrência e o custo estabilizará (até parece simples!). e tudo isto varia de caso para caso..de terra para terra.
no entanto quando me dizem epá isso agora ainda é 5 a 6 % mais caro eu coloco na balança todas as vantagens que não vêm nem interessam ao custo da obra mas que aparecem depois, na qualidade acústica, térmica, na sustentabilidade das soluções.
como afirma o arquitecto miguel mendes, a construção em terra, se bem programada e construída, pode ser ecológica e também económica, mas sem conhecimento e controlo pode não resultar em nenhuma das duas.

o problema que coloca do licenciamento é muito abrangente, podemos falar mais sobre ele, e implica vontades e visão estratégica, num país que legisla tanto e por vezes demais e onde ter um painel solar em casa é ser ecológico...

pedro


joaquimdelisboa
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por joaquimdelisboa »

não resisto a meter a minha colherada!!!

a semana passada estive de visita a silves e por lá vi muita parede, velhinha, de casas em taipa, e também adobes feitos por processos modernos aplicados em obra da própria câmara municipal.

devo dizer que o processo de feitura dos adobes passava numa tv e o produto final, devido às pressões utilizadas na máquina de fabrico, tinham a aparência de autênticos tijolos de cerâmica vulgar.

é de realçar que, embora as paredes velhinhas de taipa pareçam frágeis, elas não transportam para o interior das casas a humidade que é sugada pelos modernos tijolos e cimento que utilizamos.
aliás é ver como há muros de pedra e cal com milhares de anos (tempo dos romanos) e tudo o que é cimento se desmorona, normalmente, em poucas dezenas.
já vi muros de taipa, a que o "saber de experiência feito" levava a acrescentar no topo uma cobertura de mato, o qual servia de telhado, desviando a água da incidência vertical e com isso prolongando os anos de vida do muro.

por isso, só não fazemos,em situações várias, casas mais confortáveis e baratas porque, de um modo geral, preferimos comprá-las aos "patos bravos" que durante dezenas de anos se transformaram, a maioria mal sabendo ler, em construtores civis.


treker666
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por treker666 »

viva,

aceito a sua opinião, mas se avaliar os vários estudos efectuados até ao momento, mesmo com a extracção in loco do material a utilizar, continua a ser mais cara que a construção dita tradicional, se por acaso tiver acesso a algum estudo que determine o contrário, agradeço que me disponibilize.

os equipamentos poderão aumentar o tempo de produção das casas mas parece-me um equívoco dizer que a introdução de tal maquinaria reduziria o custo final da obra. o que se poupasse em mão de obra, gastar-se-ia em maquinaria (no mínimo)

a formação já existe, não existindo ainda num número que permita generalizar de imediato a construção de tais casas pelo país. e quer-me bem parecer que um técnico especializado não irá praticar preços mais baratos que um técnico não especializado (ainda que com vasto currículo na matéria, como os mestres taipais existentes ainda no nosso país).

além do mais apenas respondi ao que foi questionado, que foi, se alguém sabia acerca do custo actual de tal construção e não o custo da mesma daqui a uns anos bem como das suas valências...

fernando


pedro abreu Escreveu:
treker666 Escreveu:viva,

no meu entender e após uns livros lidos e pesquisa diversa na net, caso não seja uma construção própria (praticamente auto-construção) a construção em taipa ficará mais cara do que a construção actual pois a mão de obra vai encarecer de sobremaneira o produto final, sem contar com a série de problemas em licenciamentos. de qualquer forma, considero que é uma óptima forma de construção, senão a mais eficaz em termos térmicos/acústicos.

fernando

olá a todos, inicio-me no fórum permitindo-me discordar da primeira afirmação do amigo fernando, na construção em taipa estão envolvidos diversos outros factores que condicionam o custo final da obra, nomeadamente a extracção (local e condições), transporte e transformação (estabilização ou não) do material até ao taipal. neste ponto os equipamentos e desenvolvimentos tecnológicos podem contribuir para o controlo da qualidade do produto e uma diminuição do tempo de obra e deste modo do custo final.
neste sentido, acho céptico afirmar que sai mais caro apenas porque a mão-de obra encarece(!!?), sem entender o que está em causa. a questão da mão-de-obra, determinante no futuro da construção em terra, resultará e terá de dar resposta ao aumento e exigência da procura, através de formação adequada, como em qualquer outro tipo de construção, com o aumento da procura, a oferta dará resposta, aparecerá concorrência e o custo estabilizará (até parece simples!). e tudo isto varia de caso para caso..de terra para terra.
no entanto quando me dizem epá isso agora ainda é 5 a 6 % mais caro eu coloco na balança todas as vantagens que não vêm nem interessam ao custo da obra mas que aparecem depois, na qualidade acústica, térmica, na sustentabilidade das soluções.
como afirma o arquitecto miguel mendes, a construção em terra, se bem programada e construída, pode ser ecológica e também económica, mas sem conhecimento e controlo pode não resultar em nenhuma das duas.

o problema que coloca do licenciamento é muito abrangente, podemos falar mais sobre ele, e implica vontades e visão estratégica, num país que legisla tanto e por vezes demais e onde ter um painel solar em casa é ser ecológico...

pedro


pedro abreu
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por pedro abreu »

viva,
em resposta ao amigo fernando, não conheço em pormenor os vários estudos efectuados até ao momento de que fala (quais as fontes, áreas e objectos do estudo), mas aceito perfeitamente que sejam credíveis. convido-o a mostrá-los aqui para conversarmos sobre eles. tentarei fazer o mesmo.
falo apenas com base no conhecimento que tenho adquirido na minha profissão, na paixão pela arquitectura de terra, e claro na literatura e informação de que disponho sobre o tema.

sei também que a nossa sociedade, e desculpe mas a sua perspectiva demonstra-o, tem tendência a olhar para as soluções alternativas primeiro como panaceia para todos os males e depois atacando-as por todos os lados, olhando para elas pelos olhos e argumentos que são de lobbies instalados, sem perceber que necessariamente para resultarem, estas implicam mudanças, sobretudo de atitude.
e que nem sempre são soluções perfeitas...mas são melhores soluções. é tudo uma questão de perspectiva.

em concreto, em relação ao equívoco de que fala da introdução de maquinaria tornar mais cara a obra, temos de entender que ela não é uma necessidade, é uma opção, e em várias situações a relação entre tempo/controlo/qualidade pode ser favorável. e mesmo se comparar essa tecnologia "avançada" para a construção em taipa ou btc e a maquinaria para a construção dita "normal", eu não preciso dizer mais nada.
não é por acaso que é em países com menores recursos financeiros que estas tecnologias se têm desenvolvido mais, veja o caso da índia e américa latina.

a principal questão relativa à mão-de-obra é o conhecimento específico que é necessário e não o tempo de execução da obra.
não vejo problema nenhum em um técnico receber o valor justo (se necessário elevado) pelo seu conhecimento e trabalho aplicados. essas são regras do mercado que não controlamos.

por outro lado, não acredito que o futuro destas construções seja, nem deva ser, a generalização pelo país. temos de analisar as condicionantes e a realidade, mas sobretudo dignificar as técnicas e mostrar às pessoas que esta pode ser uma alternativa.

convido o fernando e quem estiver interessado a conhecer o nosso blog sobre este tema

www.arquitecturasdeterra.blogspot.com
pedro


treker666
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por treker666 »

viva,
em resposta ao amigo fernando, não conheço em pormenor os vários estudos efectuados até ao momento de que fala (quais as fontes, áreas e objectos do estudo), mas aceito perfeitamente que sejam credíveis. convido-o a mostrá-los aqui para conversarmos sobre eles. tentarei fazer o mesmo.
falo apenas com base no conhecimento que tenho adquirido na minha profissão, na paixão pela arquitectura de terra, e claro na literatura e informação de que disponho sobre o tema.


boa tarde,

não quero parecer negativista em relação à construção em taipa, muito pelo contrário, eu próprio pretendo construir em taipa daí me ter interessado tanto pelo assunto. mas perante uma pergunta simples, uma resposta igualmente simples, foi o que fiz em relação às questões colocadas pelo membro "cariquinha". quanto à bibliografia, para além de alguns textos existentes na internet, basta consultar uma obra disponível na nossa praça que concerteza terá conhecimento da existência da mesma, que se chama "arquitectura de terra", em parceria com a associação centro da terra, editado pela editora "argumentum". nele estão considerações várias sobre a construção e seus custos e todos eles apontam para que o custo, de acordo com os parâmetros actuais de qualidade, para um custo superior em relação à convencional.

sei também que a nossa sociedade, e desculpe mas a sua perspectiva demonstra-o, tem tendência a olhar para as soluções alternativas primeiro como panaceia para todos os males e depois atacando-as por todos os lados, olhando para elas pelos olhos e argumentos que são de lobbies instalados, sem perceber que necessariamente para resultarem, estas implicam mudanças, sobretudo de atitude.
e que nem sempre são soluções perfeitas...mas são melhores soluções. é tudo uma questão de perspectiva.


tem razão em parte relativamente à nossa sociedade mas em relação à minha pessoa está enganado. estou a reconstruir uma casa de pedra, utilizando na sua maioria materiais tradicionais, bem como algumas soluções não convencionais a nível de tratamento de esgotos. pretendo aumentar a habitação construindo de forma tradicional mas pretendo ser eu a fazê-lo. e porquê? primeiro de tudo, por gosto... em segundo, se o quizesse mandar fazer, a construção sairia a preços incomportáveis. não é preciso estar na área para analisar a questão da seguinte forma. na construção de uma parede convencional, encomendamos o material e começamos logo a construir. na construção em taipa, não precisando de encomendar(se o tivermos no terreno e com qualidade), é necessário efectuar a recolha, separação, análise, preparação e só após isso, a construção (que é sempre mais lenta que a convencional).


em concreto, em relação ao equívoco de que fala da introdução de maquinaria tornar mais cara a obra, temos de entender que ela não é uma necessidade, é uma opção, e em várias situações a relação entre tempo/controlo/qualidade pode ser favorável. e mesmo se comparar essa tecnologia "avançada" para a construção em taipa ou btc e a maquinaria para a construção dita "normal", eu não preciso dizer mais nada.
não é por acaso que é em países com menores recursos financeiros que estas tecnologias se têm desenvolvido mais, veja o caso da índia e américa latina.


se estivessemos na américa latina ou índia, também eu teria facilidade em utilizar pessoas para todo e qualquer trabalho que necessitasse de desenvolver. não misture realidades tão diferentes. além do mais, temos de falar de padrões de vida. compare as habitações construidas nesses locais, padrão de vida dessas pessoas e transporte para a realidade portuguesa. é que não basta dizer que lá é barato...

a principal questão relativa à mão-de-obra é o conhecimento específico que é necessário e não o tempo de execução da obra.
não vejo problema nenhum em um técnico receber o valor justo (se necessário elevado) pelo seu conhecimento e trabalho aplicados. essas são regras do mercado que não controlamos.


lamento discordar mas quando se combina uma obra, tal baseia-se sempre em vários factores que estando o pedro na área saberá bem do que falo. e um deles é o factor tempo. aliás, cada vez mais é o factor tempo que define quem irá executar a obra, pois esse factor determina uma parcela significativa dos custos. dizer que o tempo de execução da obra não é essencial para a construção de algo é algo indescritível.

por outro lado, não acredito que o futuro destas construções seja, nem deva ser, a generalização pelo país. temos de analisar as condicionantes e a realidade, mas sobretudo dignificar as técnicas e mostrar às pessoas que esta pode ser uma alternativa.

aí concordo consigo. e por isso mesmo, por norma, nunca será mais barato que a convencional.

convido o fernando e quem estiver interessado a conhecer o nosso blog sobre este tema

agradeço o convite pois não conhecia o blog. e lamento que não estejamos de acordo, mas nem tudo são rosas neste tema e devemos estar a par de todos os pontos de vista de forma a tomarmos uma opção. eu já tomei a minha...

fernando


pedro abreu
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por pedro abreu »

boa tarde,
fernando,
começo por lhe dizer que respeito a sua opinião discordante, é na diversidade de pontos de vista que todos aprendemos e não acho que exista nesta matéria apenas uma verdade.
aceito mesmo que o meu entusiasmo em relação à arquitectura de terra pode por vezes parecer intransigência mas é próprio de quem imagina e projecta o futuro.

peço-lhe, no entanto, que não associe às minhas palavras opiniões com as quais não me reconheço e distorções de argumentos que na sua essência são claros.

eu não pretendi obviamente misturar realidades diferentes quando falei da índia e américa latina, nem disse que lá era mais ou menos barato nem que mão de-obra era mais fácil…elucidei apenas de que nesses países vistos como atrasados, pobres e “mal construídos” se desenvolvem tecnologias muito avançadas e sustentáveis na construção em terra, e que não é apenas uma questão de desenvolvimento ou capacidade financeira do país, mas sim do engenho e arte das pessoas.

nem nunca escrevi que considerava que o tempo de execução da obra não é essencial para a construção, eu convivo com esse factor diariamente no meu trabalho. é fundamental e determina quase tudo. o que disse é que na construção com terra o factor principal é o know-how e a formação adequada, podendo nós apenas a partir daí optimizar o tempo de execução.

a obra disponível na nossa praça que creio estar a falar é o "arquitectura de terra em portugal" uma edição coordenada pelas arquitectas maria fernandes e mariana correia, editada pela argumentum em outubro de 2005, e é sem sombra de dúvidas um marco para quem se interessa pela construção com terra.

nele percebermos entre outros aspectos, que uma das belezas da terra como material de construção (tal como as culturas dos povos) e também a sua principal dificuldade é de que varia de sítio para sítio.

acho um excelente desafio quase irresistível o seu de “reconstruir uma casa de pedra, utilizando na sua maioria materiais tradicionais” e mesmo se em termos de isolamento térmico e acústico considerar utilizar a terra, posso sempre ajudá-lo, mas desculpe voltar a discordar consigo quando diz que

“na construção de uma parede convencional, encomendamos o material e começamos logo a construir. na construção em taipa, não precisando de encomendar (se o tivermos no terreno e com qualidade), é necessário efectuar a recolha, separação, análise, preparação e só após isso, a construção (que é sempre mais lenta que a convencional)”
,aí eu tenho de lhe responder que é preciso conhecer as tecnologias de construção com terra para saber que muito do trabalho que refere é feito antes da obra e que com uma equipa experiente de “taipeiros” a construção é substancialmente mais rápida do que pelos métodos convencionais.
a procura e o interesse por este tipo de construções tem aumentado muito nos últimos anos por isso dizer que nunca será mais barata que a convencional é no mínimo precipitado.

por outro lado, estas são técnicas que combinam como poucas a componente cultural e intangível, tão importantes como património como em termos de modernidade.
esteja sempre à vontade para “discordar” comigo aqui ou comnosco no blog, eu por mim estou sempre disponível para mudar de opinião...

pedro


treker666
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por treker666 »

caro pedro,


acredito que seja difícil discutir todos os pontos referentes à construção em taipa. em primeiro lugar porque para quem o conhece minimamente, na maioria das vezes se torna uma paixão, levando a que haja alguma dificuldade em explicar o tema a quem agora contactou com o assunto. em segundo lugar, porque os estudos são recentes e pouco abrangentes, pelo que diminui as perspectivas de análise.

quanto à utilização de taipa como método construtivo noutros países, a verdade é que o atraso é tanto (comparável à sociedade ocidental, que qualquer tipo de construção é melhor que a que têm. como é lógico, se antes viviam numa situação degradada, agora viverão muito melhor com uma construção em taipa. mas diga-me...alguém licencia alguma coisa nesses países, ou melhor, locais onde as mesmas são construídas? claro que não. eu mesmo me daperei com um intenso desenvolvimento construtivo deste tipo de construções em marrocos. mas claro que ao dizer marrocos, terei de referir que foi em zonas desérticas e montanhosas daquele país. a verdade é que na cidade não se constrói dessa forma (por vezes infelizmente). e como tal, é uma realidade diferente da nossa e que não pode surgir como exemplo para comparação, mas sim como um exemplo das possibilidades construtivas da taipa.

quanto à questão do tempo de execução, parece-me que mesmo com métodos mecânicos mais modernos (martelo pneumático apenas) e com o conhecimento adequado dos mestres taipeiros ainda existentes, a verdade é que se torna mais cara, pois infelizmente a taipa é olhada com desconfiança por quem licencia as obras, levando a que a mesma apenas seja utilizada como material de preenchimento, levando a que o betão ainda predomine como estrutura (mesmo em pisos térreos) elevando de sobremaneira os custos. agora se o pedro me disser que a construção tradicional em taipa é mais barata, envolvendo apenas os materiais como na altura se utilizava, aí já acredito, mas de momento tal torna-se difícil. até porque a edificação não é o unico custo, os acabamentos como bem sabe levam uma grande fatia do orçamento. até que a legislação mude, muito do que temos como tradição (e não só na construção, vemos também noutras áreas) torna-se económicamente inviável, como análise primária. e se referi apenas os aspectos "negativos", foi apenas porque isso foi o cerne da questão.

aproveitando que referi apenas os aspectos negativos, acharia agora interessante abordar os aspectos positivos e que do meu ponto de vista, independentemente do custo m2 ser mais elevado, terão força na escolha deste sistema construtivo e aqui agradeço a colaboração do pedro e restantes foristas...

primeiro ponto, para mim, a beleza da construção em taipa prende-se com a possibilidade de utilizar materiais que em termos de recolha do meio ambiente, não produzirão o impacto que outros têm (minha querida serra da arrábida )

segundo, em questões energéticas a poupança que se obtém em energia tanto no aquecimento e arrefecimento, pode sem dúvida atenuar o acréscimo do valor construtivo mas claro, a longo prazo. e aqui penso que reside o ponto fundamental deste sistema, pois creio que algo discutido e aceite neste fórum, é que a energia irá ser mais cara que no presente, pelo que quem tiver uma habitação devidamente isolada, poupará bastante dinheiro.


caro pedro, espero encontrá-lo por aqui e que o debate continue, essencialmente na disponibilização de informação vária que permita outras opiniões se juntem, questões sejam colocadas e respondidas e que...a taipa saia a ganhar!

fernando

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pseudominus
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por pseudominus »

boas

concordo com muito do que foi dito, mas não com tudo.

o homem na sua evolução ou “desevolução” vai procurando novas soluções por necessidades de base ou por imposição do sistema onde está inserido. todas as opções menos boas que vai tomando, tendem a ser corrigidas naturalmente com o tempo, embora seja certo que nem sempre o são.

no caso dos métodos de construção focados do tópico, o mundo ocidental com o desenvolvimento foi substituindo por outros que mostraram mais vantagens. um dos condicionantes para substituição foi o tempo construção/mão-de-obra, outro foi a segurança, outro foi a liberdade e possibilidade de novas formas e aumento dos espaços, e claro mais umas tantas razões que ditaram a substituição dos métodos convencionais da altura.

não se conseguiu ganhar em tudo, perdendo especialmente inércia térmica e gasto energia no fabrico de materiais, mas de uma forma geral ficou-se a ganhar e muito, independentemente gostem ou não.

a solução de taipa e adobe fica assim limitada a construção de “amostra ou exposição do mundo desenvolvido, e a zonas mais pobres do 3º mundo onde a mão de obra é barata, e não existe oferta de soluções alternativas ou poder de compra para tal.

este tipo de construção tem sofrido evoluções quer no processo construtivo quer na preparação utilização de materiais, mas ainda estando na sua maioria limitada a pequenas/ médias áreas individuais e de construção horizontal, não “aceitando” bem algumas “modernices como uma instalação eléctrica embutida, uma canalização embutida, um grande espaço vidrado, um terraço/varanda elevados, etc.

claro que quem vê de "fora" ("o homem"), acha sempre que a galinha da vizinha é melhor, e que tudo o que existe de mal é culpa da escolha / imposição dos outros, como se existissem soluções perfeitas e todo o mundo caminha-se na direcção do vento, sem vontade própria, só por imposição dos “tubarões” e mais um grupo de “bandidos”que os rodeiam.

cumprimentos


pedro abreu
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por pedro abreu »

caro fernando,
acredite que não me é nada dificil discutir e confrontar todos os pontos referentes à construção em terra, tenho paixão pelo material e pela riqueza das técnicas de construção que sei terem qualidades imbatíveis. criámos o blog com a vontade (firme e ao mesmo tempo ingénua) de mostrar as capacidades da terra como material actual e desmisticar medos e preconceitos que com o tempo destroiem a riqueza construtiva e cultural que a terra representa.
desafio-o a si e a todos a largarem os estudos de pessoas que não conhecem, de análises cujos parâmetros não dominam e vão ao terreno, visitem as obras e falem com as pessoas que projectam e constroiem em taipa.
vão perceber, entre outras coisas, como a construção em terra assume uma verdade e coerência verdadeiramente sustentáveis. aí vemos que a experiência não é recente, os estudos existem e as contas em termos de custos são fáceis de fazer.
quando diz:
"quanto à questão do tempo de execução, parece-me que mesmo com métodos mecânicos mais modernos (martelo pneumático apenas) e com o conhecimento adequado dos mestres taipeiros ainda existentes, a verdade é que se torna mais cara, pois infelizmente a taipa é olhada com desconfiança por quem licencia as obras, levando a que a mesma apenas seja utilizada como material de preenchimento, levando a que o betão ainda predomine como estrutura (mesmo em pisos térreos) elevando de sobremaneira os custos. agora se o pedro me disser que a construção tradicional em taipa é mais barata, envolvendo apenas os materiais como na altura se utilizava, aí já acredito, mas de momento tal torna-se difícil. até porque a edificação não é o unico custo, os acabamentos como bem sabe levam uma grande fatia do orçamento. até que a legislação mude, muito do que temos como tradição (e não só na construção, vemos também noutras áreas) torna-se económicamente inviável, como análise primária." desculpe, fernando mas não faz "pevas" do que está a falar.

a construção em taipa é simples e complexa ao mesmo tempo, corresponde a um processo de utilização da terra devidamente preparada, em moldes denominados “taipais” com tamanhos relativamente grandes, construindo por justaposição no local, paredes, sobre as quais se pode assentar um piso ou cobertura.
devido à sua espessura, as paredes não só desempenham um bom papel estrutural, como protegem do calor, da chuva, bem como da humidade.
a equipa tradicional de trabalho é constituída por quatro elementos. dois a pisar, um a transportá-la e outro a prepará-la.

as principais características são o custo reduzido, a possibilidade de utilização de mão-de-obra não especializada, a longevidade do material, a sua elevada capacidade isolante e o facto de ser um processo de construção ecológico.

a construção em terra é mais económica, pelas seguintes razões:
o material de construção não é (normalmente) comprado nem transportado, é retirado do próprio local e aí mesmo utilizado;

o tempo para construir em taipa é inferior ao de outras técnicas (betão armado e alvenaria de tijolo, por exemplo) uma vez que para a elevação das paredes e respectivas fundações há uma menor incorporação de mão-de-obra;
uma equipa (4 pessoas), pode executar 6 taipais por dia de oito horas de trabalho. cada taipal mede 2 metros de comprimento com uma espessura de 0,5m e uma altura de 0,50 m.
neste sentido, dependendo dos meios utilizados (número de equipas, tratamento da terra e transporte mecanizado ou não, é possível prever que numa construção com 600m2 de área coberta, podem ser levantadas todas as paredes em 30 dias, com 4 equipas (8 pessoas), uma a preparar a terra e uma outra a transportá-la.
repare fernando que a duplicação da mão-de obra-duplica o trabalho executado e diminui o tempo de execução mas não implica a duplicação dos custos de mão-de-obra.

uma outra vantagem deste tipo de construção, reside no facto de qualquer pessoa poder executá-la. nesta questão da mão-de-obra não especializada, se é conveniente que quem está a comprimir a taipa (taipeiro) conheça com alguma profundidade a técnica, já o mesmo não se aplica a quem a transporta e a quem a prepara.

ao contrário de quase todos os outros materiais de construção, que após alguns anos de vida iniciam o progressivo processo de degradação, pelo contrário a terra melhora as suas características com a passagem do tempo.
isto porque, baseando-se na compressão da argila, após a construção da edificação, toda ela fica a comprimir as paredes, estas que poderão ou não ser protegidas com reboco de cal e terra, após a perca da água que entrou na sua execução (aprox. um ano depois) que se designa por “cozer” a terra, deixando de estar sujeita aos elementos de erosão (chuva, vento).

podemos dizer que de uma forma geral a taipa melhora com o tempo. esta análise é visível em escavações arqueológicas que mostram construção em taipa com níveis de resistência incríveis.

dada a sua composição (terra), a sua execução (compressão) e a sua espessura (+-0,50 m), a parede de taipa tem um excelente comportamento como isolante térmico e acústico.
a sua capacidade de absorção da humidade do ar, faz com que durante o tempo húmido, ela acumule a humidade, para no tempo quente a libertar e fazer com que seja resistente ao calor.
conseguem-se amplitudes térmicas inferiores a 10 graus centigrados/ano e constante percentagem de humidade durante o ano, entre 60e os 70%.
e por fim construir em terra é uma das formas de poupar energia. todo o processo de construção pode ser ecológico, primeiro na construção (tecnologia e material) e depois na capacidade de controlo da temperatura no interior com a consequente economia de energia. a terra é um material reciclável e reutilizável, ao destruir uma construção em terra, todos os seus componentes principais voltam para onde vieram, podendo o ciclo ser reiniciado.

caro fernando, deixo-lhe uma questão e ao mesmo tempo um desafio, de que serve falarmos de isolamentos xpto e paineis fotovoltaicos como respostas sustentáveis, quando apenas se procuram é soluções mais baratas, quando nas nossas sanitas utilizamos água potável para limpar os detritos e gastamos rios de dinheiro utilizando massivamente um material como o betão que dura só cerca de 200 anos!! e na sua reciclagem (chamam-lhe reciclagem!?) emite níveis brutos de co2 para a atmosfera, será mesmo este o planeta que queremos deixar aos nossos netos?

pedro


Browny
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por Browny »

olá a todos.

comprei uma casa antiga construída em adobe, que vou reconstruir/ recuperar.

a questão que se coloca é se tento conservar as paredes em adobe e apenas reforço a estrutura, ou se avanço para a demolição das mesmas.

dizem-me que a opção mais económica e sensata é a demolição e o erguer novas paredes. argumentam também que o salitre vai acabar por atacar essas paredes daqui a poucos anos e me vou arrepender de as ter mantido.

de facto, algumas delas estão já bastante atacadas, mas outras não, e como sei das qualidades térmicas e acústicas deste tipo de construção, sinto-me algo renitente em avançar para a demolição total.

qual é a vossa opinião? onde posso encontrar informação acerca da recuperação (isolamento, etc) de paredes de adobe? será uma boa opção?

grata pela atenção
browny


pedro abreu
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por pedro abreu »

boa tarde, browny
para ajudar posso apenas dar a minha opinião, já que a decisão de construir ou recuperar em terra deve ser sempre do dono de obra. deve partir de uma vontade consciente.
digo isto porque considero que em primeiro lugar deve procurar colocar sobre a mesa todos os pontos de vista, conhecer as vantagens e desvantagens, e quem lhe está a dizer que a opção mais económica e sensata é a demolição e o erguer novas paredes, ou quer fazer dinheiro consigo ou não está a observar todas as possibilidades.

sejamos concretos, uma má parede em terra (ou seja, com patologias graves) deve ser retirada, eventualmente reposta, mas não deve ficar. considero que pode e deve demolir as partes em risco e repôr com o mesmo material, garantindo um conjunto equilibrado em termos térmicos e estruturais.
a questão de ser mais caro é uma falácia que dá muito dinheiro aos empreiteiros, que muitas vezes nem percebem muito da técnica.

por isso, após a decisão inicial, deve procurar informar-se junto, por exemplo da associação centro daterra, que desenvolve em portugal o estudo, documentação e difusão da construção em terra, que lhe poderá dar informação e esclarecer sobre os melhores procedimentos e mesmo fornecer contactos de empresas com experiência em restauro e obra nova em terra (neste caso, em adobe).

recuperar uma casa em terra passa sobretudo por respeitar o material e a sua técnica, isso obriga a algum conhecimento mas não é preciso tirar nenhum doutoramento. pode e deve ser divertido, garantindo no final uma expressividade e qualidade ambiental que sem a terra não é possível.

não lhe posso dizer muito mais uma vez que não conheço o local, nem as condições do existente, nem mesmo o tipo de terra em presença.


pedro abreu
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Re: Taipa e Adobe

Mensagem por pedro abreu »

aproveitamos para divulgar aqui um bom exemplo de reportagem sobre construção com terra crua publicado no fim-de-semana de 19 dez'09, no suplemento espaços&casas do jornal expresso

"
preservar o planeta está na ordem do dia e utilizar uma construção ecológica é uma necessidade prioritária. com esta directiva, os materiais tradicionais voltaram a ganhar importância. a terra enquanto material construtivo é quase tão antigo como o homem e hoje pretende conquistar o lugar perdido. em portugal, descobrimos muitos projectos que utilizam este material milenar. nesta técnica ancestral, «o processo de construção em terra utilizando cofragens - taipais - é engenhosamente rápido e económico. as diferentes peças, criteriosamente dimensionadas na sua forma e no seu peso para um fácil manuseamento, são sempre as mesmas sendo sucessivamente reutilizadas. perfeitamente limpo e ausente de materiais estranhos à natureza, todo o processo de construção é de uma síntese espantosa. se assim não fosse, não seria tão vulgar», explica o arquitecto alexandre bastos, adepto deste material de construção.

afinal, o que significa taipa? a arquitecta graça jalles e o arquitecto henrique schreck, no seu site, explicam que a taipa «corresponde a um processo de compressão da terra devidamente preparada, em moldes denominados ‘taipais’ com tamanhos relativamente grandes, construindo por justaposição no local, paredes, sobre as quais se pode assentar uma cobertura. devido à sua espessura, as paredes não só desempenham um bom papel estrutural como protegem do frio e do calor, bem como da humidade».

henrique schreck considera que «para um arquitecto construir em terra é um desafio, porque se trata de um método construtivo com uma lógica completamente diferente que a formação académica não forneceu (falo das décadas de 70 e 80); trata-se de conjugar materiais quase apenas recorrendo à tracção e em que a lógica da ligação dos mesmos obedece a técnicas muito próprias. na faculdade deixava-se (deixa-se?) a estrutura para o engenheiro resolver, cabendo teoricamente ao arquitecto conceber o espaço. no projectar em terra, desde logo essa questão é questionada, uma vez que a definição do espaço está intimamente ligada à estrutura. isto porque numa construção em terra, ela é a própria estrutura».

em termos económicos, construir em taipa não é mais dispendioso. a matéria-prima não tem custos de produção ou transporte, está disponível no próprio local. também o arquitecto alexandre bastos é de opinião que «se no início era necessário sensibilizar e dar a conhecer esta técnica construtiva ao cliente, hoje em dia o problema é dar resposta às várias solicitações. existindo uma procura, é mais fácil motivar os empreiteiros locais a realizar tais construções que exigem uma mão-de-obra específica, muitas vezes difícil de disponibilizar».

para o arquitecto henrique schreck, pode ser extremamente barata (40% abaixo da média corrente de euro/ m2), «pode-se dizer que custa o mesmo, ou ligeiramente menos do que a construção em betão e tijolo. a construção em terra nunca deverá ser mais cara do que a outra, pois isso seria um contra-senso».

portugal é um país propício à utilização deste material. segundo os arquitectos, a qualidade do solo e as condições climatéricas do nosso país são decisivas para o sucesso da construção em terra, sobretudo no sul. a taipa é, assim, um material que poderá voltar a ter a importância de outrora, basta para isso que se dê novamente uma oportunidade de ele brilhar na construção nacional. «se é importante saber construir em taipa, saber que o limite de plasticidade, limite de liquidez e índice de plasticidade devem oscilar convenientemente entre determinados valores, saber que não se deve molhar muito a terra, saber que se deve adicionar cal, não é suficiente se não se compreender que a taipa nos oferece uma nova maneira de arquitectar, relacionando a evolução e transformação dos espaços com a evolução e transformação da sociedade; um processo cada vez mais próximo da utopia», conclui o arquitecto alexandre bastos. "

autora: fernanda pedro

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