CrOhN Escreveu: ↑terça mar 20, 2018 8:25 am
Não concordo com o Quintas quando diz que os excessos de produção iriam causar problemas de gestão. Isso é areia atirada para os olhos. Sugiro que dês uma vista de olhos nas estatisticas de produção, e vejas qual a contribuição de cerca de 10 anos de instalações fotovoltaicas têm no mix nacional. 10 anos em que, a esmagadora maioria das instalações foram feitas com forte subsidiação. É claro que os valores actuais do equipamento estão muito mais baixos, equilibrando o retorno previsto. De qualquer forma, não acredito que se houvesse um verdadeiro netmetering, provocasse grandes problemas de gestão. Em outros paises com muito menos sol, funciona. Aqui não!?
Curiosamente, são precisamente Portugal e Espanha que optaram por penalizar mais a injecção. Chegando mesmo, no caso de Espanha, a cobrar uma taxa por usar auto-consumo. Ora se isto não é ridiculo, o que será!?
Na minha opinião, uma limitação imposta de potência máxima instalada de 1-2KWh era mais que suficiente. Juntando uma clausula que se a produção exceder o consumo, seria oferecida.
A ideia do JPC, já é uma aproximação com alguma lógica. Mas o caminho que a bi-horaria tem levado, leva-me a crer que não interessa aos decisores e correspondentes lobby's da energia. Em vez de fomentar o consumo em bi-horário, é preferível usar essa energia a bombear nas barragens, para depois a venderem a preços mais caros. Mesmo com uma perca de eficiência considerável. O ultimo ano (seca) foi muito ilucidativo sobre o potencial desta solução!
O que é mais grave é que todos estes investimentos, serão pagos por todos nós! Quando poderíamos estar a produzir em nossas casas, com benefícios directos, e sem qualquer impacto ambiental!
Obrigado por discordares, CrOhN.
O primeiro objetivo começa já a ser alcançado, temos participação e temos discordância. As divergências são salutares e permitem-nos pensar mais profundamente sobre os assuntos, abordar aspetos que não nos ocorreram anteriormente e, para os menos interventivos, ajuda-os a colher mais informação na construção da sua própria opinião. Faz o favor de continuar a participar e a discordar. Espero que muitos mais sigam o teu exemplo.
E essas discordâncias são pedagógicas. Ensinam-nos que, mesmo que nós consigamos chegar aqui a uma proposta consensual, ela pode chegar à instância que vai decidir, Governo ou Parlamento, e esbarrar com opiniões divergentes, opiníões essas genuinas, ou com motivação do lobby das “elétricas” ou simplesmente política.
Quanto à tua opinião pessoal, mesmo que tenhas razão do ponto de vista de não haver problemas de ordem técnica de gestão da rede, estás, a meu ver, a pedir demasiado. Queres usar a rede, continuar a ter energia à noite ou se houver um eclipse do sol que dure 10 dias seguidos e não pagar nada por isso.
Olhar para o peso do FV no mix energético nacional não me diz muito. O problema varia regional e, até, localmente.
Há microprodutores que tiveram problemas de limitação das injeções para a rede em situações de excesso de produção local.
Alguns esquemas de netmetering reservam a possibilidade de limitação variável ligada aos constrangimentos da rede.
A nossa própria legislação reserva a possibilidade de injetar para a rede às limitações de ordem técnica desta.
A produção fotovoltaica, em particular, é intermitente, mais concentrada num curto período do dia; isso, no mínimo, vai acarretar custos na modificação dos esquemas de gestão da rede, mesmo que tecnicamente seja possível modificar e gerir essas situações. Eu também acredito que é possível gerir essas situações. Mas haverá modoficações a fazer.
Claro que há outros custos que são poupados. A injeção de excedentes de produtores espalhados pelo país traz vantagens na estabilização da rede em muitos locais onde ela é deficitária, reduz sobrecargas e diminui a necessidade de transmissão de energia a grandes distâncias, e isso não é valorizado pelas "elétricas" neste jogo de interesses, porque não lhes interessa.
“Juntando uma clausula que se a produção exceder o consumo, seria oferecida.”
Chegar ao fim do mês e não pagar nada na fatura é irrealista. Eu prefiro uma proposta menor, como disse antes, para que possa ser aceite.
“Em outros paises com muito menos sol, funciona.”
Isto é contraditório. Se têm muito menos sol, claro que o potencial de produção de energia com origem fotovoltaica é menor, logo os potenciais distúrbios na rede são menores. E ainda são menores – do ponto de vista meramente técnico, porque são países mais ricos, com muito maior consumo energético per capita.
“Na minha opinião, uma limitação imposta de potência máxima instalada de 1-2KWh era mais que suficiente.”
Só esta limitação dá azo a que pequenos consumidores possam nunca pagar sequer 1€ ao fim do mês, ou seja, usar a rede de graça (ver abaixo o caso de estudo em Espanha). E, penso, tudo o que for usar a rede de graça e não pagar nada às elétricas ao fim do mês, é trabalho inútil. Nunca vai passar.
O simples facto de que o net metering diminui as receitas das elétricas mas mantém os seus custos com as redes e com a disponibilização de potência tem também que ser considerado.
Por outro lado, 1-2KWh penalizam grandes consumidores. E aqui introduzo mais um grão de areia na engrenagem. Devemos limitar o netmetering ao autoconsumo residencial ou abranger o empresarial?
Para grandes consumidores, 1 a 2 kWh é nada. Eu prefiro uma percentagem do consumo real ao fim do mês. Por exemplo, ter direito a 20% de créditos energéticos (em kWh) em cada dia. Tudo o que ultrapasse é perdido para a rede. E nunca uma limitação correlacionada com a potência do contador instalado. Ela pode introduzir tendências de contratar uma potência maior, para ter direito a mais créditos e não pagar nada na fatura ao fim do mês. É uma proposta mais equitativa e permite incluir todo o tipo de consumidores, grandes, pequenos, residenciais e empresariais.
E, mesmo assim, estou a deixar de fora outros aspetos importantes, os impostos. Uma fatia importante da nossa fatura de eletricidade são taxas e impostos. Não penses sequer por um segundo que o governo, seja de que partido for, vai introduzir uma lei que origine uma diminuição importante daquilo que os consumidores pagam ao fim do mês na fatura, pois uma percentagem grande é de impostos. Mesmo que o governo são fosse pressionado pelo lobby da eletricidade (só a ideia dá vontade de rir), é pressionado pelo Mário Centeno (= Vítor Gaspar e, se calhar, até = Catarina Martins e Jerónimo de Sousa se para lá fossem; vejam só o exemplo do Syrisa na Grécia; quando não produzimos o pão que comemos, sujeitamo-nos às migalhas que nos derem), por Bruxelas e sabe Deus mais quem.
O teu exemplo de 1-2kW por instalação não parece chocar, à partida. Mas, em países com muito sol, isso pode ser demais. em "The economic effect of electricity net-metering with solar PV: Consequences for network cost recovery, cross subsidies and policy objectives" é apresentado o seguinte caso de análise. Se, na ensolarada Espanha, cada casa fosse autorizada a instalar 2kW de FV em net metering, em média:
- 69% dos seus consumos passam a ser equilibrados pela produção, em média diária;
- 77%, introduzindo-se créditos mensais;
- 99% se os créditos forem anuais.
Ou, seja, há aqui um potencial de não pagar nada às elétricas e em impostos ao Estado, se houver créditos anuais. Isso seria inaceitável.
Será o estudo credível?
2kWp produzem 3420 kWh anuais, em Lisboa, pelo PVGIS5. Muitas famílias portuguesas não gastam isso anualmente. Aqui está a resposta. A limitação tem pois que ser maior. Eu, que anteriormente advogava créditos energéticos mensais, questiono-me agora se tal não será excessivo. Até créditos diários me parecem excessivos para uma potência instalada de 2kWp, ou se não se limitar genericamente os créditos a uma percentagem do consumo.
E, aqui, tens de ver o exemplo de alguns países pioneiros nestas matérias, que tiveram que arrepiar caminho, como foi o caso da Dinamarca, que teve que introduzir limitações ao netmetering que implementou, por uma forte adesão e consequente forte queda de impostos. A potência FV instalada prevista para 2020 foi alcançada logo em 2012, segundo li. Não sei como ficou, mas em 2017 o governo propôs a introdução de uma taxa a aplicar à energia produzida por todas as instalações fotovoltaicas em net metering. O ministro da energia disse que o incremento da potência fotovoltaica instalada muito mais rápida do que o previsto, ao abrigo da lei de net metering em vigor, levou a uma despesa próxima de 5 biliões de coroas dinamarquesas no orçamento do estado. É um exemplo extremo, dado o net metering que introduziram e porque é um dos países com maiores fatias de impostos na eletricidade, mas é um aviso para outros.
“Curiosamente, são precisamente Portugal e Espanha que optaram por penalizar mais a injecção.”
Eu não acho que Portugal tenha penalizado muito a injeção. Acho até que é equilibrado limitar o autoconsumo a 1,5KW de potência instalada, apenas exigindo comunicação prévia. Esta é uma limitação razoável para a maioria das situações residenciais e pequenas empresas, sem qualquer taxa. Só para UPAC's com mais de 1,5 kW de potência instalada e ligadas à rede tens taxas a pagar. Aqui, confesso, não tenho oipinião. Nunca me debrucei sobre a fórmula de cálculo para avaliar se a taxa é exagerada ou não.
“Chegando mesmo, no caso de Espanha, a cobrar uma taxa por usar auto-consumo.”
Apenas autoconsumo ligado à rede.
Artigos que lemos do tipo “Espanha quer privatizar o sol” são exageros da internet e das notícias.
Trata-se de outro caso extremo, diria absurdo até – Espanha tem um fortíssimo lobby das elétricas. Mas, não deixa de nos enviar outro aviso. Devemos querer usufruir da rede elétrica e nada pagar para a utilizar como bateria virtual?
Para mim, seria já muito bom evitar qualquer taxa ao net metering, dando em troca uma limitação aos créditos e, estes, sempre só energéticos. Créditos monetários levam-nos também para campos mais complicados com impostos, IVA's e outros, à mistura.
Eu e o CrOhN somos apenas dois, mas já com tantas divergências.
Todos estes detalhes que já começamos a discutir dão um cheirinho da dificuldade que será chegar sequer a uma proposta básica consensual, muito mais a uma lei em concreto.
Daqui, confirmo já a minha posição. Abandonar a ideia de uma iniciativa legislativa. Não é que não conseguíssemos 20.000 assinaturas. É só que elaborar uma lei, com tudo o que ela envolve, definições, competências, sanções, etc., etc., parece-me demais.
Talvez uma Petição Pública, com a pretensão de levar o net metering a discussão no parlamento. E aí, podemos esperar de tudo mas, num parlamento em que partidos como Os Verdes ou o PAN (a este ainda se pode dar o desconto da sua dimensão e juventude) têm poucas iniciativas verdadeiramente ligadas ao ambiente (pelo menos do que me lembro, mas, ultimamente, tenho fugido dos noticiários, porque deixam-me mal disposto), as minhas esperanças não são muitas. Na verdade, qualquer partido com assento parlamentar tinha obrigação de já ter apresentado propostas neste campo e em muitos outros.
Simultaneamente à petição, promover contactos com grupos de defesa do ambiente para colher ideias e apoios para essa mesma petição.
Uma petição que chegue ao parlamento e seja aceite para discussão tem que ter representantes para a explicar e defender. É, desde já, necessário prever isso e quem vai dar a cara pela petição. Tenho pouco jeito para a diplomacia e isso é imprescindível, vamos ter que passar perto da política.
Sendo promovida pela NovaEnergia, exigirá talvez o envolvimento da Administração em encabeçar a petição.
É possível?
Ofertas, voluntários?
Pessoalmente, posso ajudar, mas não me ofereço para encabeçar a lista. Sou muito interventivo e já enviei muitas sugestões a instituições, governos, grupos parlamentares e até Comissão Europeia, sobre assuntos diversos, incluindo estes da área das energias renováveis. A maior parte das vezes sem qualquer resposta, excecionalmente um agradecimento pela sugestão. Não invalida mais esta tentativa com a força da Nova Energia.
Tudo isto são coisas para serem discutidas.