a hora das cidades compactas
04 de junho de 2011
evento em sp receita adensamento urbano planejado em metrópoles como arma no combate ao aquecimento global
quanto maior a cidade, maiores os impactos. seja no transporte, drenagem das águas ou na construção civil, megacidades como são paulo pagam o preço da expansão não planejada. segundo miguel bucalem, secretário de desenvolvimento urbano da capital, a dinâmica da cidade pode gerar deslocamentos entre a casa e o trabalho de até 4 horas. e é por conta justamente dessa demanda por transporte que muitas áreas de baixa densidade populacional puxam para cima as emissões de gases estufa. “não é uma regra absoluta, mas, na maioria dos casos, baixas densidades significam altas emissões”, afirma andrea fernandez, pesquisadora da empresa de arquitetura e planejamento urbano internacional arup, com sede em londres.
andrea esteve entre 31 de maio e 3 de junho no c40, cúpula internacional que reuniu 47 metrópoles para a troca de ideias sustentáveis. ela apresentou um estudo que mostra a forte conexão entre emissões de gases estufa e densidade demográfica, baseado na realidade das cidades do c40.
o tema das cidades compactas, que diminuem a distância entre a casa e o trabalho, foi discutido amplamente entre prefeitos e representantes de cidades.
uma das soluções citadas para mitigar as emissões que os deslocamentos causam é adensar áreas urbanas já consolidadas, por meio da verticalização de construções. com a limitação da expansão territorial, surge também uma outra necessidade nas cidades: a de ter espaços eficientes e multiuso.
“em roterdã (holanda), há alguns anos apenas 5% da população vivia na cidade. tínhamos que mudar isso. não podemos mais aumentar nossas cidades, e sim deixá-las mais densas e distribuir suas populações, com maior mobilidade e interação social”, defende paula verhoeven, diretora de sustentabilidade da prefeitura de roterdã.
“cidades sustentáveis são compactas”, defende richard rogers, arquiteto responsável pelo projeto do centro pompidou, em paris. nem sempre o excesso de densidade é benéfico, é claro. mumbai, na índia, tem 30 mil habitantes por quilômetro quadrados em algumas regiões – e é um exemplo da falta de planejamento sustentável.
o conceito de cidade compacta não pode ser resumido por fórmulas, e sim pensado de acordo com a realidade de cada metrópole. confira seis medidas que são paulo poderia adotar em seu planejamento urbano para ser mais compacta e eficiente.
1- espaços multiuso criativos
reduzir cidades e torná-las eficientes implica pensar espaços multifuncionais de modo criativo. o telhado verde nos edifícios, muito comum nas cidades de nova york e barcelona, ajuda a capturar gás carbônico e a aumentar a área verde da cidade. a tecnologia também contribui com a drenagem das águas. em roterdã, na holanda, “praças de água” estão sendo construídas. em épocas de seca, são espaços de convivência, lazer e esporte. com as chuvas, viram piscinões que armazenam água e evitam enchentes.
2- tudo no mesmo bairro
ainda para evitar o maior vilão do aquecimento global, o deslocamento, é importante, ao planejar uma cidade compacta, ter bairros com múltiplas funções, como moradia, comércio, postos de saúde, creches e escolas. segundo a vice-prefeita de paris, anne hidalgo, a cidade deve fugir do urbanismo de zonas e da desigualdade de territórios - como em são paulo, que segue a lei de zoneamento, de 1972. “em paris, também há bairros onde se trabalha e outros onde se mora. a cidade ecológica deve mesclar tudo em cada bairro.”
3- voltar a habitar o centro
cidade sustentável deve ter políticas habitacionais no centro. paris exigiu que metade das novas construções na região central fosse ocupada pela população de baixa renda. em dez anos, a cidade, com 2 milhões de habitantes, levou 30 mil à região. miguel bucalem diz que a prefeitura de são paulo quer fazer o mesmo com o projeto nova luz, no bairro santa ifigênia. associações de moradores resistem: para elas, por ser da iniciativa privada, o projeto criaria especulação imobiliária e expulsaria moradores e comerciantes.
4- emprego mais perto de casa
apesar da importância de repovoar bairros centrais em que há muito emprego para poucos habitantes, o contrário também é igualmente relevante. a relação de emprego/habitante, em alguns bairros da zona leste, é de 0,2; em outros, centrais, chega a 10. a densidade demográfica de são paulo já é grande, de 7,3 mil habitantes/km2. para evitar o adensamento excessivo em regiões centrais, bucalem defende a geração de empregos em bairros distantes do centro para evitar grandes deslocamentos de moradores.
5- investir em corredores verdes
o aumento da cobertura verde da cidade deve ser feito de modo estrutural, não só pensando no aspecto decorativo. barcelona, na espanha, e stuttgart, na alemanha, são cidades que criaram corredores de vegetação que conectam parques e áreas verdes urbanas. isso ajuda a homogeneizar a distribuição dos ventos na cidade e evita as ilhas de calor. ao priorizar o pedestre e as bicicletas, os corredores verdes também incentivam que os cidadãos não saiam de carro, deixando as vias públicas livres de trânsito.
6- incentivar o transporte alternativo
investir em carros elétricos e biocombustíveis é importante, já que ajudam no problema das emissões. porém, não diminuir o número de carros e a demanda por transporte automotivo nas ruas significa mais trânsito. copenhague investiu em ciclovias e no incentivo ao transporte via bicicleta. lá, 55% dos seus moradores vão e voltam do trabalho de bike. o fomento ao meio de transporte, aliado a iniciativas como os corredores verdes e bairros planejados, pode ser uma boa solução para o excesso de carros nas ruas.
http://www.estadao.com.br/noticias/vida ... 8060,0.htm