Otelo volta a sugerir "operação militar que derrube o Governo"
15 Mar, 2012
A “perda de alta soberania” de Portugal para os diretórios da União Europeia justifica, na opinião de Otelo Saraiva de Carvalho, um novo 25 de Abril. O estratega da revolução de 1974 volta à carga para sustentar que “estão a ser atingidos limites” que, uma vez ultrapassados, podem justificar uma intervenção das Forças Armadas “que derrube o Governo” de Pedro Passos Coelho. Declarações em tudo semelhantes àquelas que lhe valeram, no início do ano, a abertura de um inquérito do Ministério Público.
Otelo Saraiva de Carvalho esteve ontem à noite no Instituto de Contabilidade e Administração de Coimbra para dar uma palestra subordinada ao tema “As Forças Armadas na Defesa da República e da Democracia Portuguesa”. Uma oportunidade para insistir na mesma leitura da situação do país que, em novembro de 2011, deu lugar a controvérsia e incomodou o ministro da Defesa.
Em Coimbra, o “capitão de Abril” foi peremptório: a quem lhe diz, na rua, que Portugal precisa de um novo 25 de Abril devolve que “sem dúvida era necessário”, porque “só as Forças Armadas podem resolver a perda de soberania” e de “independência nacional”.
“Há esta submissão grande em relação à grande potência atual da Europa que é a Alemanha, uma perda de alta soberania. Esta perda de soberania é tão marcante que, foi por isso que eu disse, estão a ser atingidos limites”, lembrou o coronel.
“Quando esses limites forem ultrapassados”, reiterou, “as Forças Armadas terão que atuar”.
“E aqui, nesta ligação constitucional das Forças Armadas ao povo, com as Forças Armadas ao lado do povo, em defesa do povo português, aí de facto as Forças Armadas terão que atuar”, insistiu Otelo.
“Tudo ao acaso”
Otelo Saraiva de Carvalho criticou também o desempenho dos sucessivos governos após 1974 na definição do papel das Forças Armadas.
“Até hoje, apesar de todas as reestruturações, das leis orgânicas publicadas, não há da parte dos governos sucessivos uma definição concreta de qual é o papel das Forças Armadas. Politicamente, qual é o caminho”, notou.
“É tudo ao acaso”, continuou Otelo, dando como exemplos as missões no Afeganistão e os salvamentos em território português.
“Não há uma linha concreta definida e tudo isto vai contra a Constituição. Hoje, de facto, a profissão do militar é um emprego”, concluiu.
“Uma operação militar que derrube o Governo”
A atuação das Forças Armadas poderia passar, no entender de Otelo, por “uma operação militar que derrube o Governo”: “Mesmo apesar de eu saber que o Governo foi eleito. Mas foi eleito em que condições? E atualmente há satisfação dos portugueses em relação ao poder que foi eleito? E se houver outras eleições haverá satisfação? Não”.
Otelo Saraiva de Carvalho lamentou que a “esperança que o 25 de Abril abriu” esteja, nas suas palavras, “a morrer”. E denunciou o que considera ser “uma infração permanente às disposições constitucionais por parte dos sucessivos governos”, que tem atingido “os direitos sociais dos trabalhadores”.
Ainda segundo Otelo, terá faltado audácia ao Movimento das Forças Armadas depois do colapso do Estado Novo: “Nós, MFA, tínhamos o poder na mão, de nos afirmarmos como um país soberano, como um exemplo dado ao mundo, notável, que foi a descolonização, sem ponta de colonialismo nosso, no estabelecimento de relações fraternas”.
A Islândia constitui, para o oficial na reserva, “um caso notável” de “poder popular emergente”. “O povo prendeu os políticos, prendeu os banqueiros, disse que não pagava dívida nenhuma, que a culpa não era do povo, e com o poder popular emergente elegeram uma comissão para elaborar uma nova Constituição”, disse.
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