Ao segundo jogo, a selecção portuguesa já entrou em modo sobrevivência
13.06.2012 09
Depois da derrota com a Alemanha, tornou-se inevitável vencer a Dinamarca, embora só um novo desaire coloque oficialmente a equipa fora de combate. A seu favor Portugal tem uma equipa mais rodada em Campeonatos da Europa.
A equipa portuguesa precisa de uma vitória frente à Dinamarca
Provavelmente mais cedo do que esperava, Portugal vê-se obrigado a ir ao fundo da mochila à procura do kit de primeiros socorros. O segundo jogo no Euro 2012 (esta quarta-feira, às 17h00) é já um dia de tudo ou nada. É dia de saber se essa avalancha chamada Dinamarca vai destruir o segundo campo base do torneio e obrigar a única equipa em prova que nunca caiu na fase de grupos a sair de gatas da Ucrânia. Paulo Bento já lançou o mote da expedição: "A nós só nos basta ganhar, não é preciso mais do que isso". Está dito.
Pode até nem ser exactamente assim, em função do que fizerem Alemanha e Holanda, mas o actual cenário já é suficientemente complicado para voltar a acomodar a variável perda de pontos. O que há a ter em conta, na altura de puxar da calculadora, é que o primeiro critério de desempate é o número de pontos obtidos nos confrontos directos (e os dois seguintes são a maior diferença de golos e o maior número de golos marcados, sempre nos jogos entre as equipas que estiverem empatadas na tabela e no caso de haver mais de duas em igualdade de pontos).
O objectivo para esta tarde é evitar entrar já no carrossel dos "ses". Dicas a não esquecer quando se pisar o relvado? "Manter a postura e determinação e melhorar na concretização", confere Hélder Postiga, um alvo fácil na altura de apontar o dedo ao défice de eficácia da selecção. "Já me acostumei às críticas. No futebol um golo muda tudo", desvalorizou. Para já, mudou tudo apenas a favor da Alemanha e da Dinamarca. "Os golos vão aparecer. O importante é criar oportunidades", insistiu.
Uma ideia repisada por Paulo Bento, que não perdeu tempo a sair em defesa do avançado do Saragoça, na conferência de imprensa de antevisão da partida, em Lviv. "Fizemos vários remates, tivemos várias oportunidades, por isso não me preocupo. Os pontas-de-lança têm necessidade de fazer golos, mas essa não é a única forma de os avaliar. Eu não os avalio só pelos golos que fazem", esclareceu. E para acabar de vez com as especulações em torno do titular no eixo do ataque (a discussão andava entre Nélson Oliveira e Postiga), sentenciou: "Amanhã [hoje] joga o Hélder."
Morten Olsen terá agradecido a dica. O seleccionador da Dinamarca foi bem mais reservado na altura de abordar o onze, embora tudo indique que não deverá mexer na equipa que derrotou a Holanda. Fosse para insuflar o balão do ego português ou porque não ficou totalmente satisfeito com a exibição no jogo de abertura, o técnico deixou o aviso: "Temos de ser melhores do que fomos contra a Holanda para batermos Portugal. Não somos favoritos. Gostávamos de ser, mas temos de ser realistas."
Nesse caso, o favoritismo vai ter de ficar órfão pelo menos até o jogo começar. É que Paulo Bento, consciente do passado recente e das dificuldades encontradas sempre que defrontou os nórdicos, não fica nada atrás do homólogo dinamarquês em matéria de cautelas: "Não há favoritos. São duas equipas muito equilibradas, que mantêm os sistemas em relação aos últimos dois jogos, que têm a mesma ambição. A vantagem pode estar um pouco mais do lado da Dinamarca, porque lhe servem dois resultados, só por isso."
Não será o único factor a estar do lado de Nicklas Bendtner (em registo monossilábico na conferência de imprensa) e companhia. O sucesso de alguns dos jogadores portugueses ao nível de clubes, e mais concretamente a duração das provas em que participaram, transporta-os a este frente-a-frente com maior desgaste acumulado. No provável onze titular de Portugal, os jogadores acumulam 37.918 minutos de jogo em 2011-12, enquanto os dinamarqueses se ficam pelos 33.279.
Mais experiência
"Não temos motivos para ter ansiedade. Perdemos o primeiro jogo com um dos grandes candidatos ao título europeu. Perdemos jogando bem, perdemos de forma injusta, mas vamos partir para outro jogo", enfatiza Paulo Bento, explicando que a preparação desta partida foi muito diferente do ensaio para o Alemanha-Portugal. "Tentámos reproduzir o que pensamos que podem fazer. Contra nós já tentaram apertar o mais alto possível, impedir que saíssemos a jogar, que elaborássemos na primeira fase de construção. Já jogaram com o bloco mais baixo para explorar situações de ataque rápido", descreve.O adversário está estudado e os protagonistas já se conhecem de cor e salteado de confrontos recentes. Por aí, não deverão surgir grandes surpresas. Morten Olsen aponta, porém, para um factor que, no seu entender, pode funcionar a favor dos portugueses. "Os jogadores de Portugal têm jogado mais vezes juntos do que nós, especialmente no meio-campo. Nós temos uma equipa nova de há um ano a esta parte. Temos grandes esperanças para o futuro, mas o futuro é já amanhã [hoje] e temos de estar bem."
Podemos até ir mais longe. Em matéria de experiência em Campeonatos da Europa, Portugal parte bem à frente. Do lote de 23 convocados de Paulo Bento, 11 já sabiam o que era disputar uma fase final antes de viajarem para a Polónia (oito dos quais deverão ser titulares esta tarde), enquanto no batalhão dinamarquês apenas três marcaram presença no torneio em edições anteriores e só dois chegaram a competir (desse lote, resta Rommedahl no onze, já que o guarda-redes Andersen não foi utilizado no Euro 2004).
Cristiano Ronaldo, por exemplo, já vai no terceiro Europeu consecutivo. O avançado do Real Madrid, que ganhou a admiração do homem que vai encontrar mais vezes pelo caminho neste jogo, Lars Jacobsen ("Aprecio o que ele faz, é um dos melhores do mundo", admitiu ontem), terá a vida dificultada por uma equipa que faz da solidariedade a imagem de marca. "Vou precisar de ajuda dos companheiros e que os jogadores ao meu lado estejam bem acordados", explicou o lateral do Copenhaga.
Este é um dos lados da questão - e a questão, para o efeito, é o ataque de Portugal. O outro será o tête-à-tête entre Simon Poulsen e Nani, uma das poucas bóias a que os portugueses se podem agarrar, quando o tema é Dinamarca: o extremo do Manchester United marcou por três vezes em quatro ocasiões.
Embora reconheça o valor das individualidades portuguesas, Morten Olsen relativiza a questão e puxa do alfinete: "O que é decisivo no futebol não é o treinador, mas a matéria-prima que tem. Temos uma equipa, outras têm grandes estrelas que não vêem necessidade de trabalhar, quando os adversários têm a bola."
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