Após a natalícia ida e volta ao Alentejo, eis a primeira viagem de estrada digna desse nome do meu Ampera: um fim-de-semana na Serra da Estrela, com o percurso Lisboa-Covilhã-Lisboa, duas subidas à Torre e a consequente descida de 2.000 para 500 metros, com uma fantástica oportunidade para recarregar baterias via regeneração de travagem. Mas já lá vamos...
Baterias carregadas e depósito atestado à saída de Lisboa (ainda não tinha atestado o depósito uma única vez desde que comprei o carro há 3 meses) e lá vamos nós fazer-nos à estrada ao final da tarde de 6ª feira.
Ao contrário do que eu receava, a bagagem de quatro pessoas (incluindo os volumosos fatos, botas e restante equipamento para a neve) cabe toda na mala do carro, sob a rede que faz de chapeleira, sem qualquer ginástica:

Percurso em Lisboa para recolher os miúdos da escola e acesso à auto-estrada feitos em modo eléctrico, como sempre, e primeiro troço de auto-estrada (A1 e A23 até Abrantes) feitos em modo Hold, mantendo a carga da bateria para o dia seguinte pois não sabia se teria oportunidade de carregar no destino (não existe um único posto de carregamento público no concelho da Covilhã) e queria mesmo testar a performance da bateria na subida à Torre. Chegados à área de serviço da Cepsa, ao km 44 da A23, ao cair da noite, paramos para jantar, WC e esticar as pernas. Mas claro que o plano de viagem incluía testar o adaptador Tipo 2 para Tipo 1 da EVBitz, que tinha chegado dois dias antes pelo correio e que permite carregar o Ampera nos PCR (sempre dando prioridade aos BEV, naturalmente):

Os dois lugares de carga encontravam-se vagos à nossa chegada à área de serviço, e assim se mantiveram durante a hora que passámos a jantar e esticar as pernas (deixando o nº telemóvel bem visível no tablier do carro, não fosse aparecer um BEV a precisar de carregar). 2,4 kWh carregados que permitiram voltar a encher a bateria (se soubesse que encontrava o posto vago e tinha mais de meia hora para carregar, teria gasto mais alguma carga na auto-estrada... vivendo e aprendendo!)
Regressados à estrada, é tempo de gastar alguma da energia da bateria, sempre com a preocupação de manter cerca de meia carga para a subida à Torre no dia seguinte (a hipótese de carregamento no alojamento continuava a ser apenas isso: uma mera hipótese). Não conhecendo a estrada, não tinha noção da grande descida que me aguardava perto do final do percurso, em direcção ao Fundão: podia ter usado 80 ou 90% da bateria e deixar regenerar na travagem em direcção ao Fundão (vivendo e aprendendo, parte 2...)
À chegada ao destino (Teixoso, às portas da Covilhã), o panorama era este:
A carga da bateria foi "zerada" ao encher no PCR de Abrantes, pelo que o gráfico corresponde apenas a pouco menos de metade do percurso.
Surpresa das surpresas, quando me dirijo à recepção, o meu pedido de uma tomada junto ao parque de estacionamento tinha sido atendido! Pude assim carregar o Ampera durante a noite (a 6A, por via das dúvidas), o que significava que tinha desperdiçado meia bateria no percurso de vinda... (vivendo e aprendendo, parte 3)
Acordamos no Sábado com uma bateria com 100% de carga e fazemo-nos à estrada. Acesso à Covilhã feito em modo eléctrico, assim como a primeira parte da subida à Torre. A partir de metade do percurso, com a bateria a cerca de 50%, activei o Modo de Montanha. E o panorama à chegada à Torre era este:
Mais uma vez, desperdicei cerca de meia bateria (vivendo e aprendendo, parte 4...). O que vale é que no dia seguinte temos nova subida à Torre.
Iniciamos a descida ao final do dia, com grandes expectativas relativamente à regeneração. E não saíram defraudadas:
Em 20 km de descida, regenerou 3,3 kWh, passando de uma autonomia estimada de 17 km para... 66 km.
Em consequência, ao final do dia o gráfico do consumo já tinha melhor aspecto:
No Domingo, e após mais uma carga completa no estacionamento do alojamento, mais uma subida à Torre. À chegada ao alto:
Qual não é o meu espanto quando, depois de estacionar e ao olhar em redor, vejo umas jantes com um ar familiar... Tratava-se do Ampera de um rapaz de Gaia. Quais são as probabilidades de um mini-encontro não planeado de Amperas no alto da Serra da Estrela?!?
Na descida a regeneração foi de 3 kWh. Almoço no Serra Shopping, na Covilhã, e é hora de regressar a Lisboa. No centro comercial ainda perguntei ao segurança do parque de estacionamento se era possível carregar numa tomada, ao que me respondeu: "Se está aflito, arranja-se. Caso contrário, não tenho autorização". Estive quase a explicar-lhe que com um Ampera é difícil "estar aflito"... mas fica a dica para a malta dos BEV: é fazer um choradinho que eles acabam por permitir.
No regresso ainda deu para dar um "encosto" no PCR da A23/Abrantes, desta vez no sentido Norte-Sul, minutos depois de ter metido 10 euros de gasolina na mesma bomba. Há momentos estranhos na vida de um tipo...
O PCR de Abrantes/A23 permite duas cargas em simultâneo. Esperei que um Zoe acabasse de carregar e meti na ficha 3 enquanto um Leaf carregava na 1.
Na A1 ainda deu para bater o meu recorde pessoal de autonomia: cerca de 95 km com uma carga! Na verdade, tirei o valor ao passar os 10,4 kWh, porque na sequência da descida da Torre e do encosto no PCR, esta carga teve na verdade 13,9 kWh, que me permitiram fazer... 121 kms puramente eléctricos. Para auto-estrada numa noite de Inverno, acho que não está mal.
Média final, após 700 kms de viagem, com duas subidas ao ponto mais alto de Portugal continental, temperaturas entre 1-10ºC e médias na auto-estrada de 100-110 km/h (percursos eléctricos) e 120-130 km/h (percursos a gasolina):
Coisas que aprendi neste fim-de-semana:
* esgotar *sempre* a carga da bateria: com alguma imaginação, é (quase) sempre possível carregar no destino!
* o Modo de Montanha funciona muito bem, até bem demais! Se o tivesse utilizado menos tempo nas subidas à Torre, teria utilizado melhor a bateria;
* vale a pena rentabilizar as paragens nas estações de serviço com pequenos carregamentos nos PCRs: à conta das duas paragens (uma na ida e uma na volta), carreguei 3,5 kWh, fazendo cerca de 30 km puramente eléctricos adicionais;
* e talvez a principal conclusão: embora o Ampera seja um carro concebido para ser eléctrico nos percursos diários urbanos, de casa-trabalho-casa, e para consumir gasolina em viagens de estrada, alimentando assim o gerador eléctrico, com alguma ginástica (e muita diversão pelo meio), é possível fazer consumos combinados muito interessantes também em estrada. Nesta viagem fiz um total de 235 km eléctricos e 465 a gasolina, com um custo total de 60 euros (e sempre mantendo as médias de velocidade e tempos de viagem que sempre fiz com os carros ICE que tive anteriormente). Se tivesse feito a mesma viagem na Cmax que vendi ao comprar o Ampera, teria gasto praticamente dois depósitos de gasóleo, com um custo total superior a 100€ e o inerente acréscimo de poluição. E isto tudo tendo desperdiçado quase uma carga completa de bateria na viagem de ida e na primeira subida à Torre, por manifesta inexperiência. São mais 80 km que podiam ter sido feitos a electricidade, reduzindo mais ainda o custo do combustível e o impacto ambiental. Ficam para uma próxima viagem...
O Ampera está nas minhas mãos há 3 meses e fiz um total de 3.100 km, utilizando 82 lts. de gasolina (uma média de 2,6 lts./100 km).
Como o testamento já vai longo, fico por aqui. Deixo-vos apenas mais umas fotos da aventura do meu Ampera na Serra da Estrela.
