Condução do futuro - sem condutor!
17.07.2011
Táxis do Porto abrem caminho ao automóvel do futuro
A tecnologia necessária a mais este avanço da indústria automóvel está a ser estudada em vários institutos e também na cidade do Porto, onde os 448 táxis da cooperativa Raditáxis estão já equipados com um dispositivo experimental desenvolvido em parceria pelas faculdades de Ciências e de Engenharia da Universidade do Porto, pela Universidade de Aveiro, pela Carnegie Mellon University, dos EUA, e pelas empresas NDrive e Geolink.
No Porto, 448 táxis da cooperativa Raditáxis estão já equipados com um dispositivo experimental
No futuro, dizem os especialistas, os automóveis vão conversar uns com os outros e até serão capazes de decidir sozinhos, num cruzamento, qual avança primeiro e qual cede a prioridade. Os semáforos serão dispensáveis e, no limite, os carros poderão conduzir-se quase sem intervenção humana, como já sucede nos aviões. Ficção científica? Nem por isso.
A partir de Agosto, os táxis começarão também a ser equipados com uma antena que permitirá iniciar uma nova etapa do desenvolvimento do projecto: os táxis, que até aqui têm comunicado através da rede GPRS (a mesma que é usada pelos telemóveis) com um computador central, passarão a usar uma variante da rede Wi-Fi, com maior alcance do que a usada pelo computadores portáteis para aceder sem fios à Internet. Os táxis do Porto transformar-se-ão, assim, num verdadeiro laboratório, no qual serão testados os futuros protocolos de comunicação entre veículos, mas também as várias aplicações a que o sistema abrirá caminho.
Protocolo luso-americano
O projecto Drive-In Porto resulta de um protocolo que o Estado português assinou, em 2006, com a Carnegie Mellon University, e propõe-se desenvolver uma rede de comunicação entre automóveis, fiável e instantânea, que suporte, no futuro, novas aplicações vocacionadas para o aumento da segurança rodoviária, para a gestão e orientação do trânsito e para o entretenimento a bordo das viaturas.
Segundo Michel Ferreira, o investigador que lidera o projecto, trata-se de substituir os actuais e quase arcaicos sistemas de comunicação entre veículos (buzina, piscas, faróis e luzes de travagem) por uma rede veicular que permita transmitir informação entre automóveis, com o fito de diminuir drasticamente os acidentes de viação. "São a nona causa de morte no mundo e pensa-se que serão a quinta em 2030. Se se contabilizar o número de anos de vida perdidos, os acidentes estão no topo da tabela. Tudo o que seja possível fazer para minimizar isto deve ser feito", diz Michel Ferreira.
Assim, quando os carros forem capazes de "conversar" uns com os outros, vão poder decidir, por exemplo, qual passa primeiro num cruzamento. Evitar-se-ão colisões, poderão dispensar-se os semáforos e, quando o embate for inevitável, poderão comunicar o respectivo peso e velocidade, quanto passageiros transportam e quantos airbags têm. No limite, os airbags serão disparados alguns instantes antes da colisão.
Se um automóvel fizer uma travagem brusca, esse dado será também imediatamente comunicado a todos os veículos que vêm atrás, evitando-se um choque em cadeia. E os condutores que sigam atrás de um camião poderão ver através dele, antes de iniciarem uma eventual ultrapassagem, para terem a certeza de que não vêm veículos em sentido contrário: activam a câmara de vídeo que haverá na frente do pesado e terão uma vista do que se passa para diante projectada no seu pára-brisas. Na prática, o camião torna-se "transparente" para quem segue atrás.
"O potencial desta tecnologia é enorme", garante Michel Ferreira, segundo o qual as vantagens do sistema de comunicação entre veículos não se resumem ao aumento da segurança. Os automóveis passarão a ser informadores de trânsito, transmitindo uns aos outros dados sobre engarrafamentos e fornecendo automaticamente caminhos alternativos aos condutores, mitigando os problemas de circulação.
"As questões de segurança serão aquelas que terão um impacte mais dramático, mas as aplicações ao nível da gestão do trânsito e da sua optimização contribuirão, por exemplo, para poupar combustível e reduzir os tempos de condução", concorda Peter Steenkiste, o investigador da Carnegie Mellon University que está a acompanhar o projecto em Portugal.
As aplicações relacionadas com a gestão e orientação do trânsito são, para já, as que estão mais desenvolvidas, beneficiando da parceria estabelecida com a NDrive e a Raditáxis do Porto, mas espera-se que, no futuro, toda a rede possa ser autogerida pelos próprios automóveis, sem necessidade de comunicação com um computador central, como ainda acontece com o novo sistema de gestão da frota de táxis da cidade (ver texto em baixo)."Mas ainda há muito para investigar", reconhece Rui Meireles, um dos investigadores que está a trabalhar no projecto. "Já percebemos algumas das dificuldades da propagação de informação através de vários carros, em saltos sucessivos. A existência de barreiras geográficas, por exemplo, é um problema. Mas a nova fase da investigação, com a instalação das antenas nos táxis, permitirá fazer simulações mais credíveis e resolver os problemas", explica. "Há, contudo, aplicações que podem ser utilizadas apenas com a comunicação entre dois veículos, dispensando a rede", acrescenta, considerando que as vantagens que agora se antecipam devem estar disponíveis e operacionais apenas dentro de, talvez, duas décadas.
Até lá, os carros têm que ser equipados com dispositivos de comunicação. Nos EUA, os construtores vão ser obrigados a fazê-lo já a partir de 2014, mas Rui Meireles adianta que será possível dotar um carro actual com um equipamento semelhante. O grande busílis será o preço. Para já, os protótipos que estão a ser utilizados custam dois mil euros cada um. Mas espera-se que, com a sua eventual massificação, possam vir a custar tanto como um aparelho de GPS.
Publicidade no pára-brisas
E já há quem esteja a pensar em formas de explorar comercialmente esta nova tecnologia, que também poderá vir a permitir que se descarregue música, filmes ou jogos directamente da Internet para os automóveis. "Uma das coisas que o sistema vai permitir é que um condutor receba publicidade projectada no pára-brisas do carro. Esta publicidade pode ser personalizada, tendo em conta os hábitos e os interesses de quem segue no automóvel, como já sucede em algumas páginas da Internet. O carro pode, por exemplo, sugerir restaurantes quando se aproximar a hora de almoço. Creio que é isto que está por trás do interesse da Google no desenvolvimento de um carro autoconduzido", diz Michel Ferreira.
http://www.publico.pt/Local/taxis-do-po ... ro_1503388