Irão inaugura avanços nucleares
15 Fev, 2012
O Irão inaugurou o funcionamento de 3.000 novas centrifugadoras nucleares e começou a usar barras de combustível nuclear produzidas no país. O avanço significa que o Irão está a conseguir contornar o embargo imposto pelos países ocidentais a peças e a materiais nucleares. A cerimónia de inauguração foi transmitida em direto pela televisão estatal e contou com a presença do Presidente Mahmmoud Ahmadinejad.
RIB Televisão estatal Irão, EPA
O Presidente iraniano saudou os avanços tecnológicos nucleares do Irão que, afirmou, são "uma resposta à propaganda ocidental que visou impedir os cidadãos iranianos de desenvolver esta tecnologia", recorrendo a sanções económicas e políticas.
"Não conseguiram os seus objetivos", considerou Ahmadinejad, saudando "a nossa juventude, os nossos cientistas, os nossos especialistas, [que] foram capazes de ultrapassar estes obstáculos e usaram a sua vontade e determinação para produzir e fabricar a tecnologia necessária."
Durante a cerimónia foram homenageados os cientistas ligados à investigação atómica iraniana assassinados nos últimos quatro anos, em atentados que Teerão atribui a Israel.
A celebração dos avanços tecnológicos nucleares do Irão coincidiu com a pressão diplomática de Teerão sobre as autoridades europeias em resposta às mais recentes sanções impostas pela União Europeia.
Em janeiro a UE anunciou que iria suspender até julho os seus contratos de compra de petróleo iraniano. Esta manhã, Teerão ameaçou rever a venda do "ouro negro" a seis países europeus, entre os quais Portugal, embora não suspenda "para já" o fornecimento, devido ao frio que se faz sentir na Europa.
Irão auto-suficiente no fabrico de combustível nuclear
A reportagem transmitida pela televisão estatal iraniana mostrou ainda o Presidente Ahmadinejad a assistir ao carregamento, num reator, de novas barras de combustível nuclear fabricadas no Irão.
São barras enriquecidas a 20% e, segundo afirma Teerão, vão servir um reator de pesquisas com o objetivo de produzir isótopos usados no tratamento de pacientes com cancro.
O país é capaz de produzir urânio enriquecido a 20% desde fevereiro de 2010 e em janeiro último anunciou estar a produzir as novas barras.
Um relatório recente informava que a reserva iraniana destas barras, importadas a partir da Argentina nos anos 90 estava a chegar ao fim. Agora, o Irão pretende provar a sua auto-suficiência atómica.
Especialistas ocidentais mostraram-se céticos quanto às novas capacidades iranianas. Mark Fitzpatrick, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres lembrou que a produção das barras não é assim tão difícil.
O problema, é que "têm de ser testadas por um certo período de tempo antes de serem usadas com segurança num reator. Se o Irão está realmente a operar o reator com barras de combustível não testadas, o meu conselho a quem esteja nas proximidades é que vá para outro lugar qualquer. Não é seguro", acrescentou Fitzpatrick.
Novas centrifugadoras
Noutro avanço tecnológico, foi anunciada a inauguração de 3.000 novas centrifugadoras de nova geração na Central Nuclear de Natanz, que irão alegadamente duplicar a capacidade iraniana de purificação de urânio.
"Cerca de 6.000 centrifugadoras estavam em atividade, foram adicionadas outras 3.000, elevando o número total a 9.000", afirmou o Presidente Ahmadinejad.
Estas novas centrifugadoras serão três vezes mais potentes que as que já estão em funcionamento.
"Hoje assistimos ao arranque da cascata destas centrifugadoras, que possuem uma capacidade de enriquecimento três vezes mais importante que as anteriores", afirmou Fereydoun Abbassi Davani, o chefe da organização iraniana de pesquisa atómica.
A Rússia mostrou-se preocupada com o aumento da capacidade nuclear iraniana, mas o vice-ministro dos Negócis Estrangeiros Sergei Ryabkov afirmou que Moscovo não deteta sinais de objetivos militares.
No ciclo de combustível nuclear, o minério de urânio é transformado em gás, o qual é depois centrifugado a alta velocidade para se tornar mais puro.
O grau mais baixo de pureza é de 3,5% e é usado para produzir barras de combustível que alimentam um reator. O mesmo processo é usado para produzir urânio altamente enriquecido até atingir uma pureza de 90%, usado no fabrico de armas.
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