
o ser humano tornou-se bípede para poupar energia na locomoção. esta é pelo menos a tese de um grupo de investigadores norte-americanos que será publicada na edição deste mês da proceedings of the national academy of sciences, nos eua.
a equipa fundamentou as suas conclusões na avaliação da locomoção de vários chimpanzés e de várias pessoas numa passadeira rolante, medindo parâmetros como o seu metabolismo e gasto de energia.
o andar bípede, que permite manter o tronco direito, é uma das características que faz do ser humano exemplar único entre os primatas, e é também uma das que tem suscitado debate entre os cientistas.
a hipótese de que a evolução desta característica humana teria estado ligada à necessidade de não gastar mais energia do que a estritamente necessária na sua locomoção estava em cima da mesa há várias décadas, mas carecia de factos que a comprovassem. os resultados dos testes desta equipa parecem dar-lhe a base concreta que faltava.
na experiência, cinco chimpanzés e quatro seres humanos adultos marcharam e correram sobre uma passadeira rolante e, para as mesmas distâncias, os seres humanos queimaram apenas um quarto da energia, calculada em calorias, do que os chimpanzés, que se locomoviam sobre pés e mãos.
para tirar teimas, a equipa treinou os chimpanzés a caminhar sobre duas patas apenas e verificou que queimavam sensivelmente as mesmas calorias do que quando se locomoviam naturalmente. mas havia algumas variações entre os vários animais, que os cientistas verificaram ter correspondência entre as diferenças anatómicas entre eles.
"conseguimos estabelecer uma relação entre o gasto energético realizado durante a marcha e a anatomia dos chimpanzés", explicou david raichlin, professor de antropologia da universidade do arizona e um dos autores do estudo, citado pela afp.
os modelos biomecânicos traçados pela equipa mostraram que os animais que davam pequenos passos ou tinham uma massa muscular mais activa consumiam mais energia. mas marchando apenas sobre duas patas, os chimpanzés com as pernas mais compridas consumiam um pouco menos de energia.
a equipa comparou em seguida os resultados das suas observações com fósseis de hominídeos para detectar as alterações adaptativas na evolução que levaram ao bipedismo. "uma dessas adaptações foi o aumento da extensão de uma parte dos membros inferiores, que proporcionou uma poupança de energia na locomoção", concluiu raichin.

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