ao serviço da restauração ecológica e da conservação da natureza
: o planeamento, construção e gestão de espaços tendencialmente sustentáveis, exigem princípios de orientação baseados na optimização das potencialidades dos sistemas vivos enquanto materiais de construção e a sua modelação às actividades humanas.

vasco rocha – associação portuguesa de engenharia natural
a exigência de proteger os recursos naturais e restaurar as funcionalidades ecológicas do território, constitui actualmente um imperativo para a compatibilização dos usos e das actividades humanas com o equilíbrio dinâmico dos sistemas naturais. as acções de intervenção no espaço pensadas para melhorar as condições de vida das populações, preconizam frequentemente a introdução abusiva de sistemas artificiais estáticos, quer seja ao nível de tipologias de construção quer ao nível da utilização de espécies exóticas, que contrariam o natural processo contínuo e mutável do espaço

no sentido de garantir o equilíbrio e a funcionalidade dos espaços naturais, importa promover a articulação entre os objectivos funcionais, ecológicos e paisagísticos das alterações do homem no espaço e a avaliação precisa e rigorosamente fundamentada de todas as componentes ecológicas, clarificando deste modo quais os problemas e as soluções possíveis a implementar. é neste contexto de sustentabilidade que se afigura a engenharia natural, como uma disciplina que conjuga as técnicas e métodos de engenharia tradicionais e as potencialidades da vegetação, em intervenções construtivas de baixo impacte ambiental.

definição
por engenharia natural (ingegneria naturalística-itália; ingenieurbiologie-alemanha, áustria e suiça; ingeniería del paisaje-espanha, …) entende-se uma corrente técnico-científica multi (inter-) disciplinar, que utiliza fundamentalmente material vegetal vivo como material de construção, recorrendo às suas características biotécnicas (acções mecânicas do sistema radicular/cobertura vegetal) e fazendo uso dos seus elementos constituintes, como raízes, estacas e rizomas, em intervenções antierosivas e de consolidação, geralmente em combinação com outros materiais (madeira, pedra, palha, redes metálicas, mantas orgânicas, ….).
a engenharia natural teve origem como disciplina, no período compreendido entre o final do séc. xix e início do séc. xx, na europa central e alpina, sobretudo na alemanha, áustria (onde nasceu h. m. schiechtl, “pai” da engenharia natural moderna) e suiça. o seu campo de actuação abrange uma temática diversificada como, o revestimento vegetal de uma área degradada, a consolidação de taludes e a estabilização de encostas, a defesa das margens de cursos de água, a protecção dunar, entre outros.

objectivos
os objectivos da engenharia natural, são fundamentalmente os seguintes:
1. técnico-funcionais: relativos à eficácia de uma intervenção antierosiva e de consolidação de uma encosta em erosão, margem ou talude estradal;
2. ecológicos: contraria a vulgar cobertura a verde de uma sementeira, pois pretende-se a reconstrução da cobertura vegetal preconizando a utilização exclusiva de espécies autóctones, correspondentes à faixa fitoclimática do local de intervenção e que apresentem as adequadas características biotécnicas;
3. paisagísticos: integração da intervenção na paisagem, através do emprego das espécies vegetais locais;
4. económicos: enquanto estruturas competitivas e alternativas às intervenções clássicas (exemplo: substituição de muro de gravidade em betão por muro de suporte vivo em caixa de troncos);
as intervenções de baixo impacte ambiental diferenciam-se daquelas levadas a cabo pela engenharia clássica, principalmente devido à relevância dada às condições da estação ecológica, sobretudo no que diz respeito aos parâmetros relacionados com o desenvolvimento da vegetação.
geralmente, adoptam-se os métodos fitossociológicos, tendo como referência as associações vegetais presentes no território nacional. contudo, dada a ausência frequente das associações autóctones nos locais de intervenção; utiliza-se como base a vegetação potencial e em particular, as séries dinâmicas que mais se adequam à intervenção.
igualmente se dá importância ao tipo de reprodução das espécies, sendo utilizadas vulgarmente espécies que se reproduzem por propagação vegetativa, como os géneros salix, tamarix, nerium, atriplex, entre outros.

interdisciplinaridade
o sucesso actual da engenharia natural em vários países da europa como um instrumento fundamental nos processos de planeamento e ordenamento do espaço, resulta principalmente do seu carácter transversal pois assenta nos conhecimentos de vários sectores técnico-científicos, fazendo uso dos dados técnicos de análise e de cálculo por eles fornecidos (topografia, pedologia, geotecnia, hidráulica, biotecnia da vegetação, …).
conclusões
uma vez que constitui uma realidade com uma ténue expressão prática a nível nacional (embora constitua área de estudo de algumas formações académicas, principalmente da licenciatura em engenharia biofísica leccionada na universidade de évora), é extremamente relevante a divulgação das potencialidades da engenharia natural, como uma tendência alternativa e inovadora de intervir em quaisquer projectos que tenham o espaço como objecto de trabalho.
a sua raíz multi-interdisciplinar estabelece o território como um sistema, impondo a todos os que nele operam, uma visão oposta ao sectarismo e uma convergência das várias correntes científicas, de modo a solucionar as diferentes questões de uma forma competente e sustentada.
por estas razões, constituiu-se recentemente a associação portuguesa de engenharia natural (apena - http://www.apena.pt), vocacionada para a partilha do conhecimento nos diferentes domínios de acção e aberta a um diálogo que se pretende activo e evolutivo.

referências
- cornelini, p. e sauli, g. (2001). l’ ingegneria naturalistica nelle aree mediterranee. interventi di ingegneria naturalistica nel parco nazionale del vesuvio, ente parco nazionale del vesuvio, san sebastiano al vesuvio, napoli, italia.
- fernandes, j.p (1987). o projecto construtivo em engenharia biofísica. universidade de évora, dpbp, évora.
- schiechtl, m.h. & stern, r. (1992). ground bioengineering techniques for slope protection and erosion control. blackwell science ltd, uk.
- tremoceiro, j. (1999). projectos de engenharia biofísica i e ii. universidade de évora, dpbp, évora.
- apena http://www.apena.pt
fonte do artigo:
http://www.naturlink.pt