As Plantas e a Engenharia Natural

Projecção e construção e edifícios amigos do ambiente
Responder

Autor do tópico
luimio
Mensagens: 2150
Registado: terça jan 24, 2006 6:59 pm

As Plantas e a Engenharia Natural

Mensagem por luimio »

as plantas e a engenharia natural
ao serviço da restauração ecológica e da conservação da natureza


: o planeamento, construção e gestão de espaços tendencialmente sustentáveis, exigem princípios de orientação baseados na optimização das potencialidades dos sistemas vivos enquanto materiais de construção e a sua modelação às actividades humanas.


Imagem

vasco rocha – associação portuguesa de engenharia natural


a exigência de proteger os recursos naturais e restaurar as funcionalidades ecológicas do território, constitui actualmente um imperativo para a compatibilização dos usos e das actividades humanas com o equilíbrio dinâmico dos sistemas naturais. as acções de intervenção no espaço pensadas para melhorar as condições de vida das populações, preconizam frequentemente a introdução abusiva de sistemas artificiais estáticos, quer seja ao nível de tipologias de construção quer ao nível da utilização de espécies exóticas, que contrariam o natural processo contínuo e mutável do espaço

Imagem

no sentido de garantir o equilíbrio e a funcionalidade dos espaços naturais, importa promover a articulação entre os objectivos funcionais, ecológicos e paisagísticos das alterações do homem no espaço e a avaliação precisa e rigorosamente fundamentada de todas as componentes ecológicas, clarificando deste modo quais os problemas e as soluções possíveis a implementar. é neste contexto de sustentabilidade que se afigura a engenharia natural, como uma disciplina que conjuga as técnicas e métodos de engenharia tradicionais e as potencialidades da vegetação, em intervenções construtivas de baixo impacte ambiental.
Imagem

definição

por engenharia natural (ingegneria naturalística-itália; ingenieurbiologie-alemanha, áustria e suiça; ingeniería del paisaje-espanha, …) entende-se uma corrente técnico-científica multi (inter-) disciplinar, que utiliza fundamentalmente material vegetal vivo como material de construção, recorrendo às suas características biotécnicas (acções mecânicas do sistema radicular/cobertura vegetal) e fazendo uso dos seus elementos constituintes, como raízes, estacas e rizomas, em intervenções antierosivas e de consolidação, geralmente em combinação com outros materiais (madeira, pedra, palha, redes metálicas, mantas orgânicas, ….).

a engenharia natural teve origem como disciplina, no período compreendido entre o final do séc. xix e início do séc. xx, na europa central e alpina, sobretudo na alemanha, áustria (onde nasceu h. m. schiechtl, “pai” da engenharia natural moderna) e suiça. o seu campo de actuação abrange uma temática diversificada como, o revestimento vegetal de uma área degradada, a consolidação de taludes e a estabilização de encostas, a defesa das margens de cursos de água, a protecção dunar, entre outros.

Imagem

objectivos

os objectivos da engenharia natural, são fundamentalmente os seguintes:

1. técnico-funcionais: relativos à eficácia de uma intervenção antierosiva e de consolidação de uma encosta em erosão, margem ou talude estradal;

2. ecológicos: contraria a vulgar cobertura a verde de uma sementeira, pois pretende-se a reconstrução da cobertura vegetal preconizando a utilização exclusiva de espécies autóctones, correspondentes à faixa fitoclimática do local de intervenção e que apresentem as adequadas características biotécnicas;

3. paisagísticos: integração da intervenção na paisagem, através do emprego das espécies vegetais locais;

4. económicos: enquanto estruturas competitivas e alternativas às intervenções clássicas (exemplo: substituição de muro de gravidade em betão por muro de suporte vivo em caixa de troncos);

as intervenções de baixo impacte ambiental diferenciam-se daquelas levadas a cabo pela engenharia clássica, principalmente devido à relevância dada às condições da estação ecológica, sobretudo no que diz respeito aos parâmetros relacionados com o desenvolvimento da vegetação.

geralmente, adoptam-se os métodos fitossociológicos, tendo como referência as associações vegetais presentes no território nacional. contudo, dada a ausência frequente das associações autóctones nos locais de intervenção; utiliza-se como base a vegetação potencial e em particular, as séries dinâmicas que mais se adequam à intervenção.

igualmente se dá importância ao tipo de reprodução das espécies, sendo utilizadas vulgarmente espécies que se reproduzem por propagação vegetativa, como os géneros salix, tamarix, nerium, atriplex, entre outros.

Imagem

interdisciplinaridade

o sucesso actual da engenharia natural em vários países da europa como um instrumento fundamental nos processos de planeamento e ordenamento do espaço, resulta principalmente do seu carácter transversal pois assenta nos conhecimentos de vários sectores técnico-científicos, fazendo uso dos dados técnicos de análise e de cálculo por eles fornecidos (topografia, pedologia, geotecnia, hidráulica, biotecnia da vegetação, …).

conclusões

uma vez que constitui uma realidade com uma ténue expressão prática a nível nacional (embora constitua área de estudo de algumas formações académicas, principalmente da licenciatura em engenharia biofísica leccionada na universidade de évora), é extremamente relevante a divulgação das potencialidades da engenharia natural, como uma tendência alternativa e inovadora de intervir em quaisquer projectos que tenham o espaço como objecto de trabalho.

a sua raíz multi-interdisciplinar estabelece o território como um sistema, impondo a todos os que nele operam, uma visão oposta ao sectarismo e uma convergência das várias correntes científicas, de modo a solucionar as diferentes questões de uma forma competente e sustentada.

por estas razões, constituiu-se recentemente a associação portuguesa de engenharia natural (apena - http://www.apena.pt), vocacionada para a partilha do conhecimento nos diferentes domínios de acção e aberta a um diálogo que se pretende activo e evolutivo.

Imagem

referências

- cornelini, p. e sauli, g. (2001). l’ ingegneria naturalistica nelle aree mediterranee. interventi di ingegneria naturalistica nel parco nazionale del vesuvio, ente parco nazionale del vesuvio, san sebastiano al vesuvio, napoli, italia.
- fernandes, j.p (1987). o projecto construtivo em engenharia biofísica. universidade de évora, dpbp, évora.
- schiechtl, m.h. & stern, r. (1992). ground bioengineering techniques for slope protection and erosion control. blackwell science ltd, uk.
- tremoceiro, j. (1999). projectos de engenharia biofísica i e ii. universidade de évora, dpbp, évora.
- apena http://www.apena.pt


fonte do artigo:
http://www.naturlink.pt

Responder

Voltar para “Arquitectura Bioclimática e Eco-construção”