8 de maio, 2011
presidente dos estados unidos sobe nas sondagens após morte de bin laden. no entanto, as dúvidas e contradições em torno da operação militar contra a al-qaeda ameaçam abrir novos debates que podem manchar barack obama.

no final da última de cinco reuniões que obama teve desde março com a sua equipa de conselheiros de segurança sobre a operação bin laden, o presidente dos estados unidos pediu tempo para que o deixassem reflectir.
segundo a cnn, as informações da cia davam a obama entre 60 a 80% de garantia que bin laden estaria dentro do complexo identificado em abbottabad. em cima da mesa havia três hipóteses: uma operação terrestre em conjunto com as forças paquistanesas; um ataque aéreo à casa onde acreditavam estar o líder da al-qaeda; ou enviar uma equipa militar de elite ao local.
entre os seus conselheiros, o director da cia leon panetta defendia um ataque terrestre que não envolvesse os paquistaneses: «qualquer tentativa de trabalhar com os paquistaneses teria posto em causa a operação, pois poderiam alertar o nosso alvo», assumiu, já depois de bin laden ter sido morto na madrugada de segunda-feira.
já robert gates, o secretário de defesa que obama herdou da administração bush, preferia a opção de um ataque aéreo, realçando o perigo que representava a operação terrestre sem a participação paquistanesa, cujo exército poderia responder com violência a uma aparente invasão estrangeira.
sobre essa opção, os oficiais da força aérea avisaram obama que, perante o arsenal que seria necessário para destruir aquela habitação, seria muito difícil ter condições para identificar qualquer vítima após a operação.
no final de quinta-feira 28 de abril, obama tinha essas três opções em cima da mesa, sabendo que qualquer erro poderia sair-lhe caro já em tempo de pré-campanha com os potenciais adversários a voltarem a questionar as suas origens.
quando, na sexta-feira, deu a luz verde para uma missão terrestre dos comandos da marinha (seal) já o presidente tinha tornado público o seu certificado de nascimento para provar ao eleitorado que é mesmo norte-americano.
até trump se calou
«uma das decisões mais corajosas de um presidente na história recente», como lhe chamou o conselheiro antiterrorismo jack brennan, começou a dar frutos já a noite de domingo ia avançada, quando milhares de pessoas saíram à rua em washington e nova iorque para festejar o anúncio da morte de bin laden. na manhã seguinte, o milionário donald trump – potencial candidato republicano à presidência que subiu nas sondagens após insistir na teoria da nacionalidade queniana de obama e exigir ver os registos académicos por achar estranho que tenha frequentado harvard – declarava uma suspensão na sua participação no «debate político e partidário» devido à relevância da notícia que chegava do paquistão.
subitamente, o presidente que fora eleito arrasando o passado bélico do seu antecessor tornava-se herói por ordenar o assassínio do ‘inimigo número um’ do país. três dias depois, uma sondagem do new york times dava a obama uma taxa de aprovação de 57% – uma subida de 11% em relação ao mês anterior. no combate ao terrorismo, obama agrada a 70%, quando há um ano só 35% o aprovavam. ainda assim, mais de 50% continuam a criticar as decisões do presidente em política económica.
e uma série de contradições nos relatos da administração sobre a operação em abbottabad deram origem a questões sobre a legitimidade da operação, deixando no ar a dúvida se a bonança seria para durar.
chuva de dúvidas
a contradição mais evidente deu-se quando o porta-voz da casa branca joe carney admitiu na terça-feira que bin laden não estava armado durante a operação, desmentindo a informação dada na véspera. «a resistência não implica o uso de armas», afirmou, sem no entanto conseguir evitar que algumas vozes questionassem a necessidade de matar o alvo. «bin laden resistiu. mas como é que representou uma ameaça às forças norte-americanas?», questionou o director da humans rights watch depois de ouvir carney.
para kenneth roth, «não se trata de fazer justiça» quando se mata alguém «sem julgamento e condenação».
também a legalidade da própria missão foi questionada. os eua defendem que se tratou de um combate num conflito armado, algo que christof heyns, investigador de crimes extrajudiciais nas nações unidas, questiona: «há dúvidas no meio legal sobre se estamos a lidar com um conflito armado com a al-qaeda no paquistão».
as dúvidas chegaram até ao ponto de se questionar a morte de bin laden por não haver imagens, algo que gerou novas contradições na administração. panetta afirmou na segunda--feira ter a «certeza» que a casa branca iria publicar imagens. informação desmentida pelo próprio presidente, quando, em entrevista ao programa 60 minutes, disse não querer que «uma imagem perturbadora de alguém que foi baleado na cabeça circule como um incitamento à violência ou como ferramenta de propaganda».
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